Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) e do Instituto Superior Técnico diz que a primeira imagem de um buraco negro, contrariamente ao que foi publicitado, não é suficiente para confirmar, com precisão, a teoria da relatividade de Einstein.
Em abril de 2019 foi anunciada a primeira imagem de um buraco negro. A sua fronteira virtual, chamada horizonte de eventos, não se vê, pois aprisiona a luz. Pode apenas visualizar-se a silhueta da zona de atracão fatal para a luz, chamada de "sombra" do buraco negro.
A equipa internacional que obteve este resultado, chamada Event Horizon Telescope (EHT), anunciou-o como confirmando a teoria da relatividade geral de Einstein. Esta teoria prevê a existência de buracos negros e, de acordo com o EHT, a sombra do buraco negro observado na longínqua galáxia M87 está de acordo com o previsto pela teoria de Einstein, dentro do erro observacional.
O recente trabalho dos investigadores Pedro Cunha e Eugen Radu, do Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações (CIDMA) e do Departamento de Física da UA, e Carlos Herdeiro do Centro Multidisciplinar de Astrofísica (CENTRA) e Departamento de Física do Instituto Superior Técnico, publicado este mês de julho na prestigiada Physical Review Letters e com honras de aparecer na capa, mostra, no entanto, que a interpretação do EHT tem de ser feita com cuidado.
Ao estudar buracos negros diferentes daqueles que surgem na teoria de Einstein, os investigadores mostraram que a sombra destes é muito sensível à maneira como o buraco negro roda.
Se o buraco negro rodar lentamente, a sombra poderá ser muito diferente. Mas se o buraco negro rodar rapidamente será praticamente idêntica ao que acontece na teoria de Einstein. Neste caso, as observações do EHT não conseguem eliminar o modelo alternativo.
Este resultado mostra como a primeira imagem de um buraco negro, apesar de ser um fantástico sucesso científico, ainda está longe de poder ser usada para testes de precisão da teoria de Einstein.
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