Numa altura em que muito se fala dos milhões de euros gastos ou a gastar por Roman Abramovich e Alexei Fedoricev, magnatas do Chelsea e Dínamo de Moscovo, que têm investido no futebol, “forte e feio”, o primeiro, há muito, o segundo está agora a começar, sem euros e sem mais-valias, também é possível fazer morcelas sem sangue, ou omeletas sem ovos. O campeonato que o Oliveira do Bairro vem fazendo é um paradigma disso mesmo. Sem dinheiro para apostar no profissionalismo e em jogadores que possam marcar a diferença, os quais custam muito dinheiro, para lutar por subidas de divisão, o Oliveira do Bairro tem apostado na prata da casa. De um plantel formado por 22 jogadores, treze foram feitos nas escolas de formação. E com esta base, sustentada há muitos anos, não é possível fazer boas equipas e bons campeonatos? É, sim, senhor, e o maior exemplo tem sido dado nas cinco épocas de segunda divisão, sempre com uma regularidade incomensurável, uma plataforma equilibrada, por vezes, a lutar pelos primeiros lugares, aliás, como é o caso da actual época. A tudo isto se chama mística, um bom balneário, onde todos se conhecem como a palma das suas mãos, com carácter e personalidade, enraizados por um timoneiro de qualidade. E aqui também há olho na escolha. Rui França é o líder de uma nau que nunca esteve à deriva. Sabe estar, impõe respeito, dá a mão, mas também a tira, quando necessário. Rui França depressa se identificou com a política dos dirigentes do Oliveira do Bairro. Nunca estendeu a mão a pedir nomes sonantes e nunca teve momentos de murmúrio, mesmo quando vê o seu plantel fragilizar-se. Destemido, tem apostado nos mais jovens. Agora digam lá, se, com a prata da casa, não é possível fazer milagres!
Manuel Zappa |