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23-04-2018

UA estuda atividade das bandas, grupos folclóricos e coros como elemento “estruturante da vida social local”.



Investigação coordenada pela UA estuda coletividades musicais de expressão local.

Estes grupos e músicos dinamizam o espaço público, asseguram a transmissão de conhecimentos necessários à prática musical e geram experiências que persistem depois na memória coletiva. São por isso “estruturantes da vida social local”.

Estas palavras de Maria do Rosário Pestana, professora do Departamento de Comunicação e Arte (DeCA), da Universidade de Aveiro (UA) referindo-se às bandas, grupos folclóricos, coros e outros agrupamentos musicais locais que são o objeto do estudo “A nossa música, o nosso mundo: as bandas filarmónicas, associações musicais e coletividades locais (1880-2018)”.

O objeto deste estudo de âmbito nacional é o “saber-fazer musical que é voluntariamente tecido em associações/coletividades musicais”. O estudo tem como enfoque privilegiado as bandas filarmónicas, mas também outras coletividades como ranchos folclóricos e coros, “instituições que apesar de terem uma grande participação na vida dos portugueses ao longo de séculos, só desde o virar do século têm conquistado um continuado interesse académico”, constata a equipa de investigação na sinopse do projeto.

A inexistência de estudos anteriores “deve-se à persistência nos estudos musicológicos em Portugal de um paradigma essencialista da cultura que rejeita as práticas que se encontram entre os dois polos - elites artístico-culturais e o ‘povo’ - e da violência simbólica de uma cultura dominante e saber académico que tem desclassificado práticas de entre-lugares”, escreve-se ainda na sinopse.

Rosário Pestana, professora do Departamento de Comunicação e Arte da UA e coordenadora do estudo considera mesmo que estas práticas musicais de expressão local são “estruturantes da sociedade local”. Estas coletividades e os seus membros e impulsionadores mobilizam a comunidade em diversos momentos marcantes, criam o contexto necessário para que essas manifestações aconteçam, são importantes – em alguns casos, mesmo fundamentais – na formação ao longo da vida e na formação musical inicial… No fundo, levam a população atrás de si e dinamizam o espaço público, assinala a investigadora.

Estudar uma realidade na sombra

No âmbito do projeto, um grupo de investigadores está a desenvolver trabalho de campo em diferentes geografias. Essa linha de investigação cruza-se com uma outra que visa quantificar este fenómeno. Nesse sentido, está em curso o mapeamento da atividade musical associativa, tendo sido já identificados centenas de grupos e iniciada a aplicação de inquéritos. Para além do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md), que agrega investigadores da UA e da Universidade Nova de Lisboa (UNL), a parceria que tornou possível o projeto envolve ainda o ISCTE, o Instituto Politécnico do Porto e o Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), da Universidade de Lisboa.

Um dos resultados esperados é o mapeamento da atividade musical nos eventos extraordinários que marcam os calendários de festas locais e o conhecimento das pessoas envolvidas nestas coletividades musicais. Aliás, muitos destes membros exercem a atividade em regime não profissional.

Este estudo de âmbito nacional está a ser aprofundado em diversas vertentes, nomeadamente, o estudo das práticas de ensaio, o estudo da documentação reunida e dos arquivos dessas coletividades, ou a evolução do estatuto de certas figuras, pouco conhecidas, que emergiram deste movimento e que, mais tarde, se tornaram músicos profissionais.

Mangualde: um caso paradigmático

Estas duas últimas vertentes estão a ser trabalhadas no âmbito do doutoramento de Margarida Cardoso, à escala do município de Mangualde, ela própria descendente ou familiar de membros, dirigentes e formadores de bandas filarmónicas. Margarida Cardoso aprendeu música e cresceu em bandas filarmónicas.

A doutoranda da UA estuda seis bandas filarmónicas do município de Mangualde, duas delas já extintas (bandas de Mangualde e de Abrunhosa do Mato), e tem vindo a constatar a importância de o movimento de emigração teve na evolução e existência destas coletividades e a analisar a forma como enfrentam o desafio da mudança para as atuais necessidades de ensino, de repertório e de financiamento.

Neste contexto, ressalta a figura pouco conhecida de José dos Santos Pinto que cresceu no ambiente das bandas filarmónicas e, mais tarde, constituiu com colegas um grupo de jazz, tendo evoluído para músico profissional e membro do Quinteto de Sopros da Emissora Nacional.

 

Texto e foto: UA


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