Universidade de Aveiro desenvolve ‘detetive’ de bivalves.
Através de uma simples análise química das conchas e dos tecidos dos bivalves, uma equipa de biólogos da Universidade de Aveiro (UA) descobriu ser possível confirmar exatamente a origem geográfica dos organismos comercializados.
O teste, de forma rápida, barata e segura, promete facilitar o combate ao comércio ilegal que anualmente coloca no mercado mundial milhões de toneladas de bivalves com risco para a saúde pública. Na Galiza, onde estão alguns dos maiores produtores de bivalves, já estão de olho no ‘detetive’ de bivalves da UA.
“A ferramenta que desenvolvemos utiliza marcadores naturais, comos os elementos químicos ou os ácidos gordos, que estão presentes, respetivamente, nas estruturas calcárias ou nos próprios tecidos dos bivalves, e que registam as alterações ambientais dos ecossistemas em que os organismos vivem até à sua captura”, explica o investigador Ricardo Calado, autor do trabalho juntamente com Fernando Ricardo e Rosário Domingues.
Na posse dessas ‘impressões digitais’ os investigadores do Departamento de Biologia da UA, e consequentemente o sector aquícola e os órgãos fiscalizadores, conseguem perceber se a informação referente ao local de origem indicada pelos diferentes envolvidos na comercialização de bivalves é ou não verdadeira.
Os bivalves alimentam-se por filtração de água, podendo por isso acumular microrganismos e toxinas presentes no meio ambiente. Estes, quando em níveis elevados, poderão causar graves intoxicações alimentares. Quando assim acontece, a captura é interditada pelas autoridades sanitárias.
Nada que demova a florescente apanha ilegal e a posterior falsificação do local de origem dos organismos. Só em Portugal, alerta Ricardo Calado, “podemos estar a falar de alguns milhares de toneladas de bivalves por ano, nomeadamente ameijoa japonesa e berbigão, que são apanhadas e transacionadas de forma ilegal”.
Assim, determinar a origem geográfica dos bivalves e confirmar se foram ou não apanhados de forma legal é fundamental para salvaguardar a saúde pública e o interesse dos produtores e comerciantes cumpridores. Além disso, refere o biólogo, a ferramenta desenvolvida na UA “permite fazer um melhor controlo da exploração dos stocks de bivalves existentes”. A informação “pode igualmente beneficiar os produtores, uma vez que estes podem diferenciar o seu produto, agregando-lhe um maior valor económico”.
Com o trabalho da UA na mira está já uma das confrarias de produtores de bivalves da Galiza. Esta pretende utilizar a técnica dos biólogos de Aveiro para diferenciar os respetivos bivalves dos de outras confrarias, numa estratégia tendo em vista uma maior valorização dos seus produtos.
“A transferência desta tecnologia para a produção de bivalves constitui uma forma de garantir a saúde pública em termos de segurança alimentar, salvaguardando os interesses dos produtores e consumidores”, aponta Ricardo Calado.
A UA pretende afirmar-se como uma das entidades de referência em Portugal e na União Europeia nas temáticas da aquacultura sustentável e na valorização dos produtos alimentares de origem marinha, contribuindo deste modo para o crescimento azul e a dinamização de estratégias inteligentes que promovam a economia do mar.
O trabalho da UA nesta área tem sido validado e otimizado no único laboratório de lipidómica marinha nacional, e um dos poucos da Europa, o Marine Lipidomics Laboratory. Este laboratório, capaz de estudar as alterações espaciais e temporais no conteúdo e composição de diferentes espécies moleculares, encontra-se na UA e uniu valências de duas unidades de investigação da UA, nomeadamente do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares (QOPNA).
Texto e foto: UA
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