Tudo se prepara para o folclore próprio destas semanas que antecedem o acto eleitoral. Para completo desespero de videntes, adivinhos e bruxos e ainda de todos aqueles que têm certezas absolutas e nunca se enganam, os resultados só se sabem depois dos votos contados. Melhor certeza não teria tido e predito Mr de La Palisse. Vamos ver como correm as modas, como desfilam os candidatos, como opinam os comentadores, que trunfos saltam das cartolas dos gabinetes eleitorais e a que manobras baixas e sujas iremos assistir. O interesse, muitas vezes não disfarçado de todos os portugueses é ver e comentar as cambalhotas políticas que quase todos dão nestas alturas. O anedotário português incrementa-se substancialmente nestas épocas e, à míngua de propostas credíveis, sempre dá para descontrair com tanta graça sobre a nossa desgraça. No entanto, início desta contenda começou com uma corrida prévia. A corrida para um lugar nas listas de candidato a deputado. Os gritos, os berros, as zangas e os amuos dentro dos dois grandes partidos foram mais que muitos. Os ditos candidatáveis nem sequer se coibiram de os fazer passar para fora das paredes dos seus partidos. Acho aliás, que tudo fizeram por isso. Pensam talvez, que lavar a roupa suja é na praça e não dentro de casa porque se suja o tanque. Nem o melhor sabão, ou melhor, a mais famosa pasta dos dentes lavaria a boca desta gente. No fim disto fica o velho ditado “zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades” Assistimos ao desencantos amuados das Juventudes do PS e PSD, ao caricato episódio político-futebolístico da rescisão com o ponta de lança Pôncio Monteiro, digno de um folhetim que alimentaria os jornais desportivos por duas semanas, aos complicadíssimos cálculos matemáticos para ajustar as cotas das mulheres nas listas (no fim aplicaram logaritmos). Presenciamos o auto-sacrifício de alguns que se pré-declararam inocentemente perseguidos e à pública manifestação de todo o tipo de golpes baixos e facadas nas costas. Passado este exercício inicial estamos ainda à espera das propostas que os diversos partidos vão apresentar ao povo português. Ninguém se adiantou ainda. A táctica é simples. Arremessam-se para a comunicação social uns palpites sobre eventuais políticas para ver como reage o eleitor. Depois, se não houver alarido nem ruído de fundo, então incluem-se nos programas eleitorais. Assim garante-se que apenas serão visíveis as medidas que aparentemente são positivas. Os exemplos mais evidentes foram os baques socialistas sobre a co-incineração e o aumento do IVA. No primeiro caso, que toca directamente a nossa região, querem claramente avançar com essa forma de resolver o problema dos lixos. Valeu-nos a esclarecida intervenção do actual ministro do ambiente, apoiado pelas associações ambientalistas, que terá em princípio refreado os ânimos de Sócrates. O caso do Iva é semelhante, mas mostra como alguns pensam a justiça social. Aumenta-se um imposto que a todos atinge para beneficiar uns quantos que podem ter benefícios fiscais, proporcionando-se ainda ao sector bancário a continuada manutenção desses depósitos e consequentes lucros. Também talvez esta medida venha a cair. António Granjeia* Administrador do Jornal da Bairrada |