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04-01-2005

A dois tempos


Editorial

O fim de 2004 terminou da pior forma possível.
Na última semana e na altura em que escrevi sobre o maremoto asiático, estimavam-se em cerca de 20000 as vítimas mortais. Ninguém, a Oriente ou Ocidente, conhecia ou sequer imaginava a dimensão bíblica da tragédia. Hoje, os números desta fatalidade são impressionantes; quase 145.000 mortos e perto de 2 milhões de desalojados. Os relatos dos sobreviventes impressionam-nos e comovem-nos, mas não nos transmitem dados suficientes para sequer podermos cogitar o que as pessoas sofreram durante aquele dilúvio dantesco.

Toda a desgraça humana deve ser aproveitada para meditar sobre ela, e muitos o têm feito. Nestes momentos, percebemos quão frágeis somos perante a fúria impiedosa dos elementos da natureza, quão ineficazes e por vezes fúteis se tornam todas as nossas tecnologias modernas, quão vãos são todos os bens terrenos que disputamos diariamente.

Mas se, nestas alturas em que tudo desaba, em que muitos colocam indevidamente em dúvida a existência de Deus, qualquer que ele seja, é também nestas horas de sofrimento que o melhor da raça humana aparece: a solidariedade, o conforto amigo, a ajuda desinteressada. Temos visto essa faceta diariamente na televisão.

Jornal da Bairrada apela a todos os bairradinos que participem no esforço de apoio às vítimas deste maremoto apoiando as instituições que actuam neste casos (por exemplo a Caritas - ver notícia nesta edição)

2º tempo

Mas vivemos em Portugal e convém sempre não esquecer o que, no ano de 2004, nos trouxe e porque a memória é sempre curta, faz-se aqui uma lista necessariamente incompleta de alguns acontecimentos que marcaram o nosso colectivo para o bem e para o mal:

  • O Sr. Presidente da Republica e as suas (in)decisões
  • Santana Lopes e as trapalhadas governativas, Sócrates e as incineradoras, Portas e o fim do serviço militar obrigatório.
  • A eleição de Durão Barroso para Comissário Europeu e a morte do Professor Sousa Franco na agitação tresloucada de uma campanha eleitoral.
  • O Euro 2004, sermos vice-campeões europeus, a morte de Féher e caso apito dourado e as sequelas dos candidatos a caloteiros do toto-negócio.
  • O défice crónico que nos apoquenta porque os governos não conseguem parar de gastar e o aumento dos combustíveis.
  • A eleição do último governo de Portugal e a bronca da colocação de professores.
  • O início do julgamento da casa-pia, o caso da pequena Joana e ?
  • As subidas exponenciais das multas de trânsito, os malucos da contra-mão e as campanhas cool.
  • A censura (ou auto-censura) televisiva do Prof. Marcelo e mediática invenção de realezas obscuras nas televisões.
  • Mais do mesmo?.

E porque o futuro se deve arquitectar olhando para o que construíram portugueses ilustres que, como Camões disse um dia, “que da lei da morte se vão libertando” ; recordemos alguns deles:

António Champalimaud, Carlos Paredes, Fernando Valle, Sousa Franco, Maria de Lurdes Pintassilgo, Henrique Mendes, Lino de Carvalho, Fialho Gouveia.

Esperemos que 2005 seja melhor.

Bom ano.

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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