Temos, em Lisboa, a maior árvore de Natal da Europa. São 62 metros de altura, o equivalente a 22 andares; 122 toneladas de peso, e uma luz irradiada por dois milhões de lâmpadas, conduzidas por 22 mil metros de mangueira luminosa. Não haja dúvida que para grandes eventos somos capazes! Movemos todas as montanhas e conseguimos bater os diversos recordes; temos a capacidade de inventar energia para os grandes momentos, e, iluminados por uma causa, damos tudo por uma meta a atingir. Sentimo-nos bem! Mas, passado o tempo da euforia tudo volta ao desgarrado normal do dia-a-dia da nossa verdadeira casa?onde, superado o entusiasmo do solavanco, desiludidos com o exemplo menor dos que estão acima de nós, quase desistimos do compromisso da esperança da construção de Portugal. Mas, não paramos? Onde estamos no dia-a-dia? No país que é a nossa casa, a nós que gostamos de causas? faltará colocar toda a própria realidade nacional num slogan como se de uma grande causa se tratasse? Quando, bem acima das cores partidárias a euro-reencontrada cor da bandeira nacional será mesmo a única causa de toda a actividade política? É mesmo o interesse nacional assumido e comprometido que está (e estará, mais uma vez nas campanhas que se seguem) presente no(s) discurso(s) político(s)? É evidente e muito preocupante o divórcio da população com a actividade política de um país que, com muito menos classe média, denha-se e desdenha-se para o pão (nosso) de cada dia. Portugal vai entrar numa sequência de eleições, aos diversos níveis; um desafio, uma oportunidade, em que o cidadão (que tiver tempo e formação para a participação) terá oportunidade de escutar, apreciar, entender e escolher o que lhe parecer mais correcto, em consciência. Mas os cidadãos precisam de ver urgentemente re-dignificada a realidade da actividade política. Valores de maturidade como o espírito de serviço, a verdadeira humildade, serenidade e seriedade precisam de ser sentidos pelo Povo, onde por isso não haverá espaço para o oportunismo, demagogias, fáceis populistas promessas, ou a tentação de ler a política na óptica mais de interesse pessoal que colectivo. É realmente preocupante quando muita gente diz que os partidos, mais que parte da solução, são sim um grande problema; ou que os partidos são um mal necessário; ou a noção aplicada à realidade política de que “falam, falam, falam?mas?” Queremos não concordar com estes pareceres. Diante do cenário actual, em que o cidadão comum sente uma certa desagregação de algumas instituições, da política à justiça, torna-se um verdadeiro imperativo assumir Portugal como uma real causa. E agora? Já não haverá mais tempo a perder com as politiquisses menores. Caso as campanhas políticas se continuem a pautar pelo discurso político vazio, ilusório, também de retomas nunca vistas na carteira aflitiva da grande maioria da população, então as pessoas rapidamente desligam e, em país de brandos costumes, participam pela abstenção. Como que pensando: nada há a fazer e os políticos estão pouco importados com a realidade? Todo este longo tempo que temos de campanhas e discursos, ou consegue fazer o milagre da aproximação e compromisso dos cidadãos na vida colectiva (como no brilhante compromisso de todos no caso da TAP Air Portugal), aproximando os governantes (acima da cara diplomacia) da comunidade?ou então tudo isto confirmará o previsível: a insignificância da política em relação à vida das pessoas nas sociedades democráticas, o desinteresse, a passividade, a abstenção recorde. E agora? Na actualidade, em que já pouca gente acredita, dependerá da ética, do senso e bom-senso com que decorrer o discurso, o saudável e construtor ‘combate’ que deverá ter em mira não o pormenor diferente mas a maturidade da síntese que permita um pacto nacional em que, venha quem vier, o País continua a trilhar um caminho de desenvolvimento social e educativo. Vem um governo, outro e depois outro?que dizer dos anos a fio de trabalho (investimento de todos) colocado inteiramente para o lixo quando das mudanças de governos?! Aos olhos do cidadão comum, hábito absolutamente escandaloso! Que revela o nível das oposições e dos governos?enquadrados num “vai-se andando” nacional! Às vezes até parece que não estamos (governo e oposições) num mesmo país! Já que por nós não somos capazes (?), olhemos para a Irlanda, a Espanha,? e que estes tempos próximo reinventemos qualquer coisa nova capaz de nos unir na ca(u)sa nacional. Que, vencidos todos os antigos mitos e interesses instalados, da árvore de Natal euro-lisboeta, brilhe uma luz esperançosa para o Futuro de Portugal, e que todos os que assumem responsabilidades colectivas construam a partir da verdade que somos, e em cada cidadão aquele gosto em fazer crescer as terras lusas. Mas, duma vez por todas, superado o característico fragmentado social, para quando alguns natalícios consensos que unam a ca(u)sa nacional? Esta, uma oportuna e sensibilizante pergunta de natal, este um claro apontar de desígnio para 2005. Alexandre Cruz*
*Centro Universitário Fé e Cultura de Aveiro |