O embaixador João de Vallera foi entronizado confrade de honra, durante o 38.º Grande Capítulo da Confraria dos Enófilos da Bairrada, realizado no passado dia 26, no Palace Hotel do Bussaco.
Um capítulo onde foram também entronizados três novos confrades efetivos: Ana Margarida Batista Valente, administradora e diretora de marketing das Caves Messias; Manuel Pinho Soares, enólogo da Aveleda SA e Vidal Agostinho da Silva Ferreira, mestre assador de Leitão da Bairrada.
Velhos e novos confrades apelam à união. Num capítulo que entronizou apenas quatro confrades, duas das intervenções da noite (velhos e novos confrades) fizeram um apelo à união dos vários agentes do setor, a bem do vinho Bairrada.
Cumprindo a tradição, pelos velhos confrades usou da palavra o confrade Adriano Aires que sublinhou o facto de naquela noite estarem todos reunidos “em torno de um sentimento que todos assumimos como um compromisso: honrar, homenagear e divulgar o vinho Bairrada.”
Aos presentes destacou como o vinho tem sido “um elemento aglutinador de sentimentos e de partilha de emoções”, concluindo que a melhor forma de homenagear o vinho, o grande vinho da Bairrada e todas as videiras da região é através da “união, na comunhão, na defesa, divulgação e valorização dos nossos vinhos, do néctar dos deuses que só os privilegiados têm a honra de disfrutar.”
Ouviu-se ainda Ana Margarida Valente, pelos novos confrades, acabados de entronizar.
Filha, neta e bisneta de vinhateiros bairradinos (Caves Messias – Mealhada), revelou que o seu percurso enófilo é bastante recente: “de facto a minha rebeldia, diga-se em abono da verdade “rebeldia controlada”, fez-me, em jovem, enveredar por bebidas refrigerantes, só para contrariar a minha família que sempre me incitou a beber moderadamente… vinho”.
Por isso, só há dois anos, quando assumiu cargos de liderança no negócio da família, “entrei neste maravilhoso mundo do vinho. Foi então que me apercebi do que perdi durante todos estes anos”.
Destacou a complexidade de aromas e sabores do vinho, as diferenças por região, por casta, por terroir, mas também salientou que a defesa dos vinhos da Bairrada “partirá sempre da união dos enófilos bairradinos como exemplo para união dos agentes económicos visando projetos de aperfeiçoamento da qualidade e a promoção dos vinhos bairradinos”, salientando a potencialidade do projeto Baga Bairrada, “de que sou uma fã incondicional”.
Apelo à união de esforços e de propósitos. Antes do encerramento de mais um grande Capítulo, os cerca de cem convivas presentes no Bussaco ouviram atentamente a intervenção do embaixador João de Vallera que, enquanto embaixador em Berlim, Washington e Londres, se destacou como uma das figuras que mais promoveu o vinho português além fronteiras.
No Bussaco, considerou a Confraria dos Enófilos da Bairrada “uma confraria de reconhecido e merecido prestígio, representante de uma das mais antigas regiões vitivinícolas do país”.
Sobre o “simpático e generoso gesto da Confraria”, admitiu ser o reconhecimento pelo gosto e empenho com que, ao longo da carreira, foi de uma forma espontânea e sucessivamente associando-se na medida dos seus conhecimentos à causa da promoção do vinho português.
Falou dos seus primeiros contactos com a região, desde a infância, das paragens na Bairrada quando a família rumava para o norte do país. Relembrou os almoços ainda menino e em família no Hotel Avenida, do Astória e do próprio Palace do Bussaco.
Por isso, admitiu que a Bairrada foi uma região “sempre muito presente nas atividades de diplomacia económica, em Londres”, até porque durante várias décadas passou férias na zona da Figueira da Foz.
Sem esquecer as várias iniciativas, jantares na embaixada, acontecimentos enológicos, seminários, condecorações de críticos de vinho internacionais, eventos com jornalistas da especialidade e do setor da distribuição/importadores, prémios conquistados pelos vinhos portugueses nos mais pretigiados concursos e certames internacionais, João de Vallera recordou com satisfação que “tudo isto deve satisfazer-nos, encorajar-nos e animar-nos”, ainda que não tenham sido suficientes [nem nunca serão] “para nos deixarem repousantes, nem para ultrapassar os desafios a que o vinho português está sujeito” nos mercados internacionais.
Porquê? Como explicou, “o setor do vinho é daqueles em que a concorrência se faz sentir de forma mais brutal”.
“E, se é verdade que os nossos vinhos melhoraram e muito ao nível da qualidade e sobem merecidamente nas escalas do valor e reconhecimento internacional, não é menos verdade que o mesmo fenómeno acontece noutras partes do mundo”, alertou.
Aos presentes avisou ainda que “persiste um enorme fosso entre o crescente grau de notoriedade alcançado ao nível do circuito da crítica, dos prémios, da imprensa de referência, dos wine writers e a menor visibilidade e disponibilidade que gozam os nossos vinhos nas cadeias de distribuição e nas listas da restauração, ou seja na proximidade com o consumidor final.”
Reconhecendo que Portugal não tem muitas marcas reconhecidas internacionalmente, a que acresce um problema de escala, considerou que “a notoriedade, o sucesso, a visibilidade e o binómio que o nosso país criou, e vem reforçando a nível mundial, se deve à riqueza e otimização das nossas castas, dos seus diversos terroirs e à sua autenticidade, capacidade de identificação como um produto distinto, com caraterísticas próprias e não na qualidade de um fabricante de genéricos lançados para o mercado”.
A sua vastíssima experiência no exterior levaram-no ainda a dizer que “o vinho faz parte do que mais espontâneo e facilmente se pode promover no decurso da atividade normal e quotidiana de uma embaixada.”
A terminar e à semelhança dos anteriores oradores, destacou que neste setor extremamente compectitivo e concorrencial, “o que prevalece nesta perspectiva de promoção externa é a sinergia positiva e não a subtração concorrencial”, ou seja, será sempre “através da união de esforços e de propósitos que será mais relevante e útil – do que as tentativas de afirmação individual -” singrar neste mercado global.
A importância das relações e dos novos mercados. De destacar também a mensagem de Fernando Castro, na brochura de saudação aos enófilos, onde refere que neste “caminho de afirmar as extraordinárias qualidades dos vinhos da região da Bairrada”, é necessário preservar as relações “que durante o percurso se vão construindo e se procura que sejam o mais sólidas possível”.
Porquê? “Porque, como destaca, “são as relações sólidas que proporcionam continuidade e longevidade aos projetos”.
Paralelamente, Fernando Castro defendeu que para além de ser necessário manter os mercados de outrora, é necessário procurar outros mercados “porque todos eles são necessários e porque os vinhos da Bairrada têm qualidades bastantes para competir e se afirmar”.
Catarina Cerca
|