O quadro de rotura entre o presidente da concelhia de Aveiro do PSD e o presidente da Câmara de Aveiro conhece novo episódio, a um ano das eleições autárquicas, com a divulgação de uma carta enviada por Ribau Esteves a dirigentes nacionais, concelhios e distritais do PSD e ao próprio Vítor Martins, em Junho de 2015, em que o autarca se queixava da falta de apoio político.
Confirma-se o quadro várias vezes falado nos meandros da política sobre esse "braço de ferro".
Ribau Esteves denunciava em 2015 a “fragilidade” da estrutura liderada por Vítor Martins e que viria a ser chefiada, transitoriamente, por Rui Rei até ao regresso de Vítor Martins em ato eleitoral antecipado que o autarca de Aveiro diz ter sido uma “golpada”.
“O exercício dessa concelhia verdadeiramente liderada pelo companheiro Vítor Martins tem sido um confrangedor vazio, sem qualquer ato de apoio político ao seu presidente à sua maioria autárquica, com várias atitudes provocatórias e até de oposição”, escrevia o autarca de Aveiro a 3 de Junho de 2015, elogiando a atitude do CDS e lamentando a secundarização a que foi votado na tomada de posse da concelhia Social Democrata.
Essa carta confirma o clima de relações quase inexistentes entre o líder da concelhia e o autarca que procurou junto de Passos Coelho e do presidente da distrital à época, Ulisses Pereira, apoio para “renovar” o PSD sob pena de seguir um caminho de descredibilização. Ribau denunciava falta de diálogo.
"A concelhia de Aveiro do PSD não tem organização, não faz trabalho regular, não está estruturada ao nível das freguesias, não tem presença nem credibilidade na sociedade, reúne de forma esporádica e não faz trabalho de equipa com o seu presidente de Câmara e militante".
A relação entre ambos nunca terá sido de proximidade, com o autarca a acusar o dirigente partidário de falta de liderança e solidariedade num quadro agravado, segundo Ribau, pela recusa em dar a Vítor Martins um lugar na vereação em 2013 e por ter recusado a possibilidade de integrar o gabinete da presidência lembrando que não havia condições políticas uma vez que o dirigente estava conotado com a liderança de Élio Maia e com “má imagem” nos corredores da autarquia.
As ausências de Vítor Martins na Assembleia Municipal para onde foi eleito têm sido tema recorrente uma vez que o dirigente partidário continua a acumular faltas. Há um ano e meio, Ribau Esteves colocava em causa essa atitude na carta agora divulgada.
“Mesmo depois de várias chamadas de atenção feitas por mim mesmo, manteve essa postura de nem participar nem renunciar, nem sequer responder até hoje à pergunta: o que é que queres fazer com esse comportamento?”
Na carta endereçada a dirigentes nacionais e distritais, Ribau Esteves ameaçava divulgar a carta caso não houvesse alterações na situação política do PSD em Aveiro. Ano e meio depois a carta chega ao domínio público deixando perceber que chegou o momento da clarificação.
“Não quero tornar pública esta carta mas terei de ponderar fazê-lo se este estado miserável de coisas não for radicalmente alterado”, dizia o autarca na missiva.
A carta chega ao domínio público com o autarca admitir uma tomada de posição nas próximas horas, negando que tenha tomado a iniciativa de a tornar pública e com Vítor Martins a queixar-se de estar a ser vítima de “assassinato político”, apontando baterias a Ulisses Pereira com quem entrou em rotura no processo de eleições para a distrital do PSD.
Vítor Martins é, hoje, vice-presidente da distrital liderada por Salvador Malheiro e Ulisses Pereira, deputado eleito por Aveiro, já sem poder na estrutura distrital que perdeu para o autarca de Ovar com acusações a Vítor Martins de ter trocado o apoio a concelhia de Aveiro a troco do lugar na direção distrital.
O processo de pacificação parece comprometido e a guerra aberta estala nas mãos dos dirigentes locais, distritais e nacionais, a um ano das eleições, com Ribau Esteves a confirmar em vários momentos que vai assumir a recandidatura. Com ou sem o apoio de Vítor Martins.
Foto: arquivo Notícias de Aveiro
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