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12-11-2004

O Muro de Berlim


Editorial

Passaram na noite de 9 para 10 de Novembro 15 anos sobre o derrube do muro de Berlim e a libertação de todo o povo alemão. É uma data histórica da qual muito já se escreveu e escreverá mas que importa sempre lembrar. Lembrar pelo que ela representa para toda a humanidade, para os ideais da liberdade e da justiça. Não pode haver regime ou ideologia política que, nos dias de hoje, permita tal vexame à humanidade.

Durante 28 anos, de 1961 a 1989, a população de Berlim, ex-capital do Reich alemão, com mais de três milhões de pessoas, viveu uma experiência ímpar na história moderna: a divisão da cidade por um imenso muro de pedra e betão.

Fruto da crescente degradação das relações entre os vencedores da segunda grande guerra, o muro revelou-se como a suprema arma do mundo comunista contra o desenvolvimento. O objectivo era deter o constante fluxo de gente para o lado ocidental, migração que fizera com que, entre 1949 e 1961, mais de 2,6 milhões de alemães orientais escapassem para a República Federal. Estes alemães, que tudo deixaram, apenas trocaram a “prosperidade socialista” pelo bem-estar e a recuperação económica da Alemanha ocidental.

O muro acabou assim por rapidamente se tornar também um símbolo da rivalidade entre Leste e Oeste, mas com o decorrer dos anos acabou por ser um atestado do fracasso do socialismo real em manter-se como um sistema de vanguarda e atractivo para a maioria da população alemã. O muro matou ao longo da sua existência de 28 anos 192 pessoas que apenas tentaram fugir para a liberdade e feriu mais 200. O regime prendeu ainda cerca de 3200 pessoas por serem suspeitas de se quererem evadir.

Os muros, com os de Berlim, não são infelizmente casos isolados. Desde os tempos imemoriais que estas muralhas foram usadas para impedir invasões e ataques de vizinhos. Mas algumas vezes redundaram em isolamentos e incapacidades dos construtores de lidarem com as mudanças que apareciam à sua volta. Exemplos disso são a China antiga ou os muros construídos na Grã-Bertanha. Mas estas são experiências passadas que os homens modernos da década de 60 não souberam evitar ofuscados que estavam pela esquizofrenia ideológica.

Nos dias de hoje outro muro se levanta. Desta vez na Palestina. Claro que justificações não faltam aos israelitas mas a intolerância é a mesma, a mesquinha visão do seu mundo é semelhante à dos comunistas de 60. Claro que a intolerância religiosa é crescente e que usa armas de terror mas não é assim que vão resolver o problema do terrorismo. O problema era como em 1961 apenas um; o desenvolvimento sustentado de toda a raça humana.

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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