As eleições são a forma de pleitear do mundo actual. Transformámos um modo simples, fácil e compreensível de escolha de governantes, em espectáculos mediáticos onde quase todos os poderes e contra-poderes modernos se embrulham e combatem, usando meios muitas vezes menos convencionais e eticamente condenáveis para conquistarem o poder. O poder será sempre aquilo que de última instância interessa. Só o poder, como sempre, permitirá distribuir benesses, controlar interesses e chegar à riqueza. As eleições americanas estão na ordem do dia e não existe maneira de evitar que cada um de nós ouça falar nelas. Estas eleições traduzem na perfeição o que acabei de referir. O espectáculo mediático em que os partidos democrata e republicano transformaram esta luta eleitoral não é apenas da sua responsabilidade. As televisões e os meios comunicação social americanos fazem de tudo para ter o "share" publicitário que os partidos oferecem e esgotam quando gastam milhões de dólares nas campanhas. As acusações mais graves e directas são feitas nestes anúncios em detrimento dos debates televisivos, uma vez que estes foram perdendo a influência e a importância que tiveram há 30 anos atrás e porque o marketing político pretende atingir segmentos eleitorais que hoje vêm mais os canais de cabo que os generalistas. Todo o tipo de folclore "made in América" e os oráculos mais patéticos aparecem nestas alturas. Para além das "parades" de majoretes, mais ou menos despidas e coloridas, existe, por exemplo, a convicção de que o resultado do jogo na véspera do acto eleitoral da equipa de futebol de Washington determina o próximo presidente americano (neste particular Kerry leva vantagem). Também normalmente, na última semana de campanha, os candidatos mostram os podres do seu opositor lançando "bombas" de última hora. Desta vez, isso também aconteceu, mas não veio de um candidato. Essa "bomba" foi lançada pelo inimigo público nº 1 dos EUA, o terrorista Bin Laden. Ainda não sabemos quem vai atingir a onda de choque provocada por esta intervenção externa aos candidatos. Devemos ainda acrescentar a estas bizarrias, o estranho método eleitoral que prevalece nos EUA e que, contrariamente ao que seria normal, não é uniforme por todo o País, criando assim diversas desigualdades. Mas se este é o lado menos bom da democracia americana consideremos a extraordinária dinâmica de voluntariado e de grupos organizados de cidadãos que os candidatos motivam e agregam à sua volta, e que não é fácil de ver na Europa. É convicção dos americanos que qualquer um pode chegar a presidente e refazer o sonho americano. Aconteceu na década de 80 com Ronald Reagan e já antes tinha acontecido com Carter. Esta é, de facto, a força da democracia americana, que, mesmo com todas as suas idiossincrasias, permanece a única forma eficaz de governo e alternância dos diversos poderes e que mantém este País na liderança do mundo e cujos cidadãos são intrinsecamente democráticos. Esperemos, então, o resultado das eleições. António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |