O Ministério do Ambiente anunciou, na penúltima quarta-feira, a intervenção, imediata na Pateira de Fermentelos, para combater a infestação de jacintos de água, mas o programa exclui qualquer acção no Rio Vouga, também infestado. “AGUARDAR O INÍCIO DAS OBRAS” Amílcar Dias, presidente da Junta de Freguesia de Fermentelos, foi apanhado de surpresa pela notícia. Diz que vai aguardar o início das obras. No entanto, frisou que a altura para efectuar a recolha dos jacintos não será a melhor, uma vez que tem chovido muito e o nível das águas está a aumentar. De acordo com um comunicado de imprensa do Ministério do Ambiente, no tocante à Pateira de Fermentelos, vão ser desencadeadas, de imediato, acções de combate à planta infestante, através de meios mecânicos e manuais. Os trabalhos, segundo a mesma fonte, constam de uma empreitada, agora adjudicada, e arrancam ainda esta semana, tendo um custo estimado em 50 mil euros e outro tanto numa segunda fase, a decorrer durante os próximos dois meses. “OS JACINTOS ESTÃO A CAUSAR PROBLEMAS” A intervenção de emergência na Pateira de Fermentelos insere-se num programa mais vasto de intervenção nas lagoas e pateiras do litoral centro, de iniciativa conjunta da Comissão de Coordenação Regional do Centro e do Instituto da Conservação da Natureza, para requalificação e renaturalização daquelas zonas húmidas, que será articulado e acompanhado também pelo Instituto da Água e pelas autarquias locais envolvidas. A intervenção do Governo para estancar a proliferação de jacintos de água tinha sido reclamada pelo Partido Ecologista "Os Verdes" e por movimentos ambientalistas, bem como pelo presidente da Junta de Freguesia de Cacia, Aveiro, Jaime Vinagre, o qual defendeu que o Rio Vouga devia ser abrangido, o que não se verifica. Os jacintos estão a causar problemas não só à pesca como à navegação, criando um manto denso e extenso sobre o Rio e já está mesmo a invadir as valas de drenagem dos campos do Baixo Vouga. “INTERVENÇÃO DE URGÊNCIA” Rosa Pinho, bióloga responsável pelo Herbário da Universidade de Aveiro, havia reconhecido a urgência de uma intervenção, mas não necessariamente no Rio Vouga, defendendo como prioritária a limpeza na Pateira de Fermentelos, que estará na origem da disseminação para o Rio Vouga. Aquela bióloga tinha também defendido o processo mecânico para o combate à infestante, apesar dos custos, porque a utilização de herbicidas "pode matar o jacinto mas também toda a fauna e flora", e o processo biológico, que consiste em aplicar um predador da planta, é de efeitos desconhecidos para o ecossistema. Amílcar Lemos Dias já reforçou as palavras da bióloga e garante que a opção ministerial está correcta, uma vez que os jacintos se forem erradicados na Pateira já não aparecem no Rio Vouga. “ORIUNDO DA AMÉRICA DO SUL” O jacinto, que se reproduz por sementes e por rebentos, é oriundo da América do Sul, principalmente da bacia do Amazonas, e foi introduzido em Portugal como planta ornamental nos anos trinta. O processo de reprodução assexuada confere uma notável agressividade e uma só planta pode originar uma nova planta em duas semanas. Isto equivale a dizer que num período vegetativo, - de 15 de Março a 15 de Novembro - dez plantas podem originar mais de meio milhão. Estas características biológicas do jacinto-de-água explicam a sua célere expansão e densidade. A planta coloca em risco o equilíbrio do ecossistema, uma vez que forma um denso tapete que interfere na penetração da luz e provoca um abaixamento dos níveis de oxigénio. Uma situação que poderá matar muitas outras espécies ao mesmo tempo que impede a navegação de pequenas embarcações. Os tapetes depois de formados destacam-se, com certa facilidade, funcionando como um ponto de partida de novas colónias. Pedro Fontes da Costa pedro@jb.pt |