Guerra Petro-Religiosa ? Os humoristas dizem que sim. Que eles, diga-se a verdade, nem sempre estão certos. Mas este é o título que dão à guerra “Iraco-Terrorista” em que estamos envolvidos. A coisa não é para rir, e há até quem tenha vontade de chorar em face desta matança, donde não sairemos nas próximas décadas. Ao que parece, esta é uma guerra inspirada por Deus. O nosso Presidente isso tem dado a entender. Quando lhe perguntaram porque não seguiu os conselhos de seu pai, ele disse que ouvia os conselhos de um poder que “mais alto se levanta”, e apontou o dedo para o céu. Tem sido anunciado que sr. Bush, depois de uma mocidade um tanto extravagante, com cerveja e Maria Joana, ele teve uma visão mística, que o levou a mudar o curso da sua vida, E agora reza e conversa com Deus amiúde, a quem pede inspiração e conselho, e por tal não pode ser castigado.

Segundo ele deu a entender, esta guerra contra os infiéis do Islão, foi-lhe inspirada pelo tal poder que mais alto se levanta-no dizer do nosso Bardo Camões. Daí o carácter messiânico que ele emprestou ao conflito, e ao ardor com que defende a guerra. Ele não está nem contrito nem arrependido. E esta é a parte mais perigosa da questão. Os governantes, no geral, costumam seguir o pragmatismo, cuidando do bem do povo, da sua saúde e educação, das obras públicas, da defesa da ecologia, da pureza do ar, e assim por diante. Mas uma das primeiras coisas que ele fez, no campo da ecologia, foi passar um esfregão molhado sobre o Tratado de Quioto, que regulamentava os cuidados a ter com a puresa do ar que respiramos. Por aí, logo se ficou a saber que o Sr. W, não queria nada com os Verdes, e favorecia os donos das usinas a carvão, seus amigos de partido, de churrasco e de contribuições de campanha. Poderia dizer-se que o “seu Reino, não era deste mundo”.,.mas dos pastores evangélicos sulanos, que muito o tem influenciado

Há evidência de que nosso Presidente está convencido do seu papel messiânico. No princípio, deu até à guerra a designação de “Cruzada”.Termo que os mussulmanos apanharam à unha, e estão convencidos de que se trata de uma nova cruzada, igual a que desencadearam há séculos, os reis cristãos, contra os adeptos do profeta Maomé. E essa guerra sanguinária entre os adeptos de Cristo e de Maomé, nunca foi esquecida pelos que, aparentemente, têm à mão milhares de mártires, prontos a darem a vida em nome do seu Deus. Na verdade, a Casa Branca nunca albergou na Sala Oval, um presidente que tantas vezes falasse em Deus. E daí o carácter messiânico que ele tem emprestado a este conflito.

Depois da primeira guerra do Golfo, o sr, Bush Pai, escreveu um livro, em que explicava a razão porque não tinha avançado contra Bagdade e ocupado o Iraque. Disse ele no dito livro que, ocupar Bagdade, seria cair numa armadilha de terrorismo urbano donde nunca seria possível sair. E dai, a pergunta ao Bush filho, porque não havia tomado o conselho do papá. E a resposta, como já citei, foi a de que o seu conselheiro, estava lá mais em cima. Ora isto é de um presidente místico, não pragmático, ou cônscio das responsabilidades tremendas que pesavam sobre os seus ombros, mas de um visionário político-religioso, que não receia sacrificar milhares de vidas e famílias, de fazer milhares de órfãos e viúvas atrás duma visão .Seria sonho? Os terroristas acreditam que se trata de uma “Cruzada”, e estão dispostos a dar a vida, para fazer a vida negra ao nosso Presidente e a todos nós, que temos de pagar em sange e fazenda, esta visão do nosso Chefe.

E depois, a visão do nosso Presidente, parece que implica mais qualquer coisa. Debaixo daquelas areias inhóspitas, há qualquer coisa que serve para alimentar os nossos SUVs. E os árabes sabem disso. E os terroristas do Ben Laden e do mundo à volta, acudiram todos ao Iraque, em defesa da fé e do petróleo. E a última edição de SUVs, veio com mais força, mas peso, mais cavalagem e mais sede. Estes “meninos” precisam de um galão, para arrastar a sua pesada carcaça, por umas quinze milhas no máximo. E o Iraque possui a segunda maior reserva mundial de ouro negro. E nós sabemos isso e os árabes, que não são troxas, também sabem. E daí, esta guerra de vida ou de morte. E agora, os rapazes e pais de familia, que deixaram a mulher, os filhos, o cão e o mortgaje da casa por pagar, estão chegando aos cinco e seis por semana, em sacos de plástico

E os amigos da fé e do embrião, e inimigos dos gays, dos imgrantes, dos negros, dos Liberais, do Seguro Social, do Medicare e da instrução pública, estão dispostos a preservar ”o mesmo e mais forte”, como se diz em Agua de Pau. Mas é assim mesmo, pois com a fé não se brinca, nem com um chefe que se crê inspirado por Deus, para defender a nação e a santa religião de Cristo,-- que era todo paz e compreensão, e odiava a guerra,--o qual está atento à defesa da nossa pele e da nossa felicidade.

Assim seja.

Manuel Calado