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NOTÍCIAS | | | 07-10-2004
| Dia Mundial do Animal
| Univer(Sal)idades |
| 4 de Outubro, dia de Francisco de Assis, por isso, Dia Internacional do Animal. Nascido no ano de 1182, em Assis, pacata aldeia italiana, esse ecológico de vanguarda, continua a gerar, pela sua inspirada elevação, pensamentos e sentimentos de defesa da natureza nas suas diversas vertentes. Ficou para sempre registado o seu hino “Fazei de mim, Senhor, um instrumento da Vossa Paz”, escrito num espírito de contemplação rumo à “fraternidade” com a “irmã natureza”, como uma das páginas humanas mais belas que, pela sua frescura, vence tantas vezes a visão limitada histórica.
Na purificação das ideias, e evitando as possíveis interpretações extremistas, é certo que importará situar claramente a ‘ordem das coisas’. Perguntamos: proteger primeiro a vida das “Joanas” (desaparecidas, famintas, sofredoras, solitárias,…) ou a floresta da Amazónia? A questão (retórica) não pode fazer sentido, pois a vida humana está naturalmente sempre primeiro. Mas todas as des-protecções nos mais diversos quadrantes acabarão por ser consequência infeliz de défice de humanidade da parte dos humanos.
Que felicidade alguém pode ter a fazer, ver, promover, qualquer tipo de mal? Seja para com irmãos humanos, seja para com a própria natureza animal ou vegetal? Só será feliz no ‘mal’ quem ainda não descobriu a sua própria dignidade pessoal ou não cresceu até à maturidade a ponto de entender que tudo o que existe é património comum…a acolher, admirar, preservar.
Quem faz na vida a leitura só da ordem funcional, utilitária, de tudo o que o rodeia… então, a certa altura, o ‘outro’, quase-objecto (e não sujeito), acaba por ser só importante para benefício próprio, e até o próprio cão, quando deixar de ser tão lindo como era, já não interessa. E afasta-se, põe-se fora, como se de um electrodoméstico ultrapassado se tratasse.
Pressupondo a natural intransferência de quaisquer afectos (de que o famoso ‘tamagotchi’ japonês fora um perigoso símbolo), e vivendo a natural hierarquia em que o ser humano, na sua dignidade infinita e inigualável, estará sempre primeiro, o certo é que haverá uma dignidade própria, situada, de toda a realidade criada que nos rodeia. Um olhar ‘apaixonante’ (meditativo, como Francisco) em relação à criatividade biológica gerará a sensibilidade protectora. É por isso que quem ‘conhece’ anseia zelar por um mundo mais equilibrado, mais harmonioso com toda a vida existente. Esse, não pode ficar parado! É o que fazem inúmeras pessoas, associações, investigações, que, num horizonte global, dão de si para ser possível o próprio futuro. São, assim, muitas as frentes da nova grandiosa missão de um desenvolvimento sustentável… onde todas as teorias terão de ir ao encontro da profunda sensibilidade (e respeitabilidade) da parte de cada ser humano. Por isso, quem está à espera que todas as vidas humanas sejam protegidas, primeiro, para, depois, então ser dado lugar a outras causas ainda não terá percebido que há uma inerente transversalidade em todas as causas de protecção e defesa da vida. Existirá um entrelaçado interactivo de causas inaugurado pelo homem de Paz de Assis que têm uma origem na visão do escritor bíblico dos Génesis. Dessa página (escrita a mais antiga há mais de 30 séculos) brotam dinamismos de reconhecimento que só com uma relação (situada mas) estreita, de “fraternidade”, a motivação expandir-se-á até à consequente e inadiável protecção.
Que acontece por detrás dos olhos que se deliciam a ver a floresta a arder, ou a tourada sangrenta onde o sangue e o sofrimento animal é o delicioso espectáculo(?!), ou em tantas formas de entretenimento dos bípedes humanos que riem desalmadamente com bárbaro sofrimento animal, ou o simples abandono multiplicado e indiscriminado de animais… Quer se queira quer não, o mal provocado à natureza nas suas diversas dimensões, acabará por ser sintoma de mal que vai no próprio coração humano. Ou ainda sinal explícito da sobrevivência na base do instinto. O mau trato com o mundo animal cria proximidade com muito do mau trato para com os irmãos humanos. E o cuidar, proteger, de todas as formas de vida naturais… sensibilizará para um apreciar sem medida a vida humana, a primeira maravilha.
Sendo a ignorância, como em tudo, o pior dos males, todas as efemérides, sejam os dias mundiais (ambiente, mar, animal, …) sejam os anos atribuídos da parte da UNESCO-ONU, visam o despertar das consciências para as causas que, no fim de tudo, corresponderão à vivência dos (direitos e) deveres humanos.
Deste “dia-projecto”, eleva-se um convite a sermos sempre mais instrumentos de paz! Claro, primeiro com os outros, é certo! Mas também, e de modo situado, com todos os mundos deste mundo maravilhoso que nos rodeia… com a natureza que, na sua admirável criatividade, acaba por nos dar tantas lições de serenidade e paz!
Alexandre Cruz
Centro Universitário da Fé e Cultura
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