Decorreu, no último fim de semana, a terceira edição da Feira de Velharias e de Artesanato no Troviscal, no espaço do largo, a que preside o maestro José de Oliveira. Estava a transbordar.
TUDO CONFECCIONADO À MÃO
Cerca de 50 expositores marcaram presença e, segundo Adelino Cruz, presidente da Junta “muitos queriam estar e não estão”, porque, na realidade, a data coincidia com a realização da FARAV, em Aveiro, onde o concelho de Oliveira do Bairro, esteve com um stand. Só a chuva que tombou (e que foi uma bênção para os agricultores mas não para o certame e organização conjunta de Junta de Freguesia e Casa do Povo), ainda ameaçou estragar a festa. José Peixoto, entusiasmado com a qualidade das peças expostas referindo-se a muito do que estava exposto (tapetes, bordados, panos, rendas, trabalhos em estanho, etc.) disse-nos que “tudo o que está exposto é tudo confeccionado à mão, mostrando as capacidades humanas”. Feira que na verdade foi festa. Isso mesmo era anunciado no stand de Aida Maria Duarte do Troviscal: “o velho veio para arejar / o novo para se mostrar. E a feira… tornou-se festa”. Uma síntese perfeita do que é uma feira do género que teve a presença do presidente da Câmara e vereadora da Cultura, respectivamente, Acílio Gala (que até foi buscar a gravata a casa, porque achava que uma inauguração destas merecia mesmo gravata…) e dos presidentes da Junta e da Casa do Povo, Adelino Cruz e José Peixoto que nos afirmou que a Casa do Povo está disposta a desenvolver outras actividades, “mas há sempre uma grande magreza de recursos”. A freguesia do Troviscal fez questão de dar o exemplo e, naturalmente, fez-se representar em cheio. A começar pela Junta de Freguesia e Casa do Povo. Esta deu exemplo com dois stands. Um a abrir, lado nascente, mostrando pedaços de história do Orfeão e da própria instituição. Do lado oposto, o stand dos sabores. Era onde se serviam “filhós do Alentejo”, “tão nossas, e outros doces, tudo concorrendo para a realização de alguns fundos para fazer face aos custos do certame que são muitos. (Mas bolos de festa e romaria eram os de Maria Rosa Mota, da Rua Nova, que não desiste de levar ainda a muita parte as saborosas cavacas, bolos redondos e regueifas). Segundo o presidente da Junta, Adelino Cruz, “a junta vai suportar o menos possível e não sei quanto ainda. Os valores ainda não estão definidos”. Mas lançou uma verba aproximada dos mil euros. A animação, para além de todo o trabalho, custou dinheiro. Todos os grupos presentes cobraram verbas. “O grupo de concertinas que nem conheço, da Mourisca, ofereceu-se gratuitamente, gestos que são de louvar”. Mas também ali naquele espaço se manifestaram gestos de solidariedade. Por exemplo, a Célia Pereira Pinhal, além de outras peças de roupa antiga, ou louça, expunha uma imensidade de panos com o objectivo claro da realização de fundos para as Obras Sociais da Paróquia. Disse mesmo: “eu não quero ganho, isto é o trabalho de um ano”, saído de suas mãos, ainda não esquecida dos tempos de linha e do dedal… Ainda que não estivesse presente o “homem das motos”, não faltaram dois automóveis bem do outros século. Eram pertença de quem “doido por antiguidades”, retiradas do museu da família Weber que, um dia, se apaixonou pelo Troviscal e aqui se radicou. Trata-se de um Ford Edsel de 1959, um carrão de oito cilindros, e um Serchserring Trabant, motor de dois tempos. De outras terras, umas perto (Mamarrosa, Soza, Nariz, Amoreira da Gândara, Oiã e Oliveira do Bairro), outros artesãos vieram um pouco de mais longe: Águeda, Ílhavo, Aveiro, Anadia, Caramulo (mel), Aradas, Almalaguês (tear e suas bonitas peças), tear que “ainda trabalha todos os dias e até sábados e domingos”. De um modo geral, era uma panóplia diversa: rendas e bordados, tapetes de Arraiolos e quadros em estanho, pintura de louça à mão, mobiliário para crianças em madeira, cestaria em verga e correia, roupa para crianças, toalhas de linho, colchas, numismática, tapetes e bolsas em fio de nylon, relógios antigos e rádios, grafonolas, e até velhas alfaias litúrgicas, mel, bonecas, estatuária, bibelôs, muita velharia e antiguidade, a justificar, exactamente, o título da Feira. E, como não podia deixar de ser algumas associações, como a ALDA, Associações de Lavradores do Distrito de Aveiro (doces, compotas e outros), a Associação da Quinta do Gordo (com balança decimal, cestos e alfaias da adega) e a Associação de Pais e Encarregados de Educação das escolas do Troviscal com um dístico “As crianças são o futuro, colabore”. Também o agrupamento de Escuteiros 480 do Troviscal não poderia faltar a um evento da terra.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Digamos que a abertura da feira foi feita pela Banda do Troviscal executando uma peça de seu vasto e bom repertório. E, como não é a farda que faz a qualidade da música, os elementos apresentaram-se um tanto desportivamente, à-vontade, uma vez que ao outro dia tinham de partir para Santa Marta de Portuzelo. Depois, houve um compassos, de espera para algumas palavras. José Peixoto, presidente da Casa do Povo e um entusiasta dos saberes e sabores do povo, nomeadamente do que é feito no Troviscal, foi o primeiro a intervir, começando por afirmar que “sem os expositores, não era possível a realização desta feira. Elogiou a presença dos artesãos de fora da freguesia, mas para os da casa teve uma palavra mais generosa. Não deixou de referir a importância dos cursos de formação realizados na freguesia pois “têm vindo a mostrar que as pessoas do Troviscal têm capacidade para fazer”e um certame do género acaba por “divulgar as nossas capacidades, o nosso trabalho está aí”. Aproveitou entretanto a ocasião para deixar um recado aos autarcas presentes: “que as autarquias se empenham um bocado mais no futuro”. O presidente da Junta, Adelino Cruz, que foi incansável na montagem da feira (os stands são propriedade da autarquia (“isto leva muitas horas, eu andei aqui desde terça-feira” tinha-nos antecipado), afirmaria ainda que “tudo isto (os cerca de 50 expositores) é de louvar”. “Tudo isto é convívio e vem mostrar o que as pessoas fazem”. E, falando do futuro, assumiu um compromisso: “a Junta de Freguesia vai continuar a empenhar-se para que a feira continue ainda com mais força”. Por sua vez, Leontina Novo, do Pelouro da Cultura da Câmara, felicitou a Casa do Povo e a Junta de Freguesia que trabalharam para dar continuidade à feira, onde é significativa e notória a presença de muita gente do Troviscal que “tem valores e é preciso mostrá-los”. No fundo, a feira, no seu entender, que também apresentava muitas alfaias agrícolas, muita louça antiga, muitos objectos de uso diário, canecas, garrafões empalhados e tanta outra coisa, “mostra um pouco da vida das gentes que trabalharam a terra. É um pouco de história”. Encerrou Acílio Gala para referir-se a uma nota especial que marcou o Troviscal e que foi “um grande espaço na cultura e daí a demonstração da apetência cada vez maior para as actividades culturais”. Afinal, a realizações do género “só tem sucesso se a população colaborar como coisa sua”. Aproveitou Acílio Gala ainda para anunciar a segunda cobertura de asfalto, criadas as condições para isso, na rua principal e na rua do Barbito. Agora que estão implantada definitivamente as redes de água e de esgotos, “só não tem qualidade de vida quem não quiser ligar à rede a água e os esgotos”. Anunciou ainda outro melhoramento: a substituição da rede aérea (eléctrica) por rede subterrânea, o que também virá melhorar a qualidade da vida das pessoas. Feitas estas intervenções, as entidades, que usaram da palavra, visitaram, um a um, todos os expositores, deixando palavras de incentivo e de elogio, enquanto a Banda lançava notas de festa, que também era a feira. Como tal não faltava um grande stand (tenda) de comes e bebes, da responsabilidade das entidades organizadoras.
Armor Mota
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