O Secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, destacou o exemplo do Município de Vagos “na revolução positiva que está a acontecer na indústria portuguesa”.
No 5.º Jantar Conferência do Jornal da Bairrada, realizado pela primeira vez em Vagos e em parceria com o Município, o Secretário de Estado parabenizou Silvério Regalado pelo “bom trabalho” realizado na área económica.
“Vocês são uns sortudos, não há muitos presidentes da Câmara como este.” Foi desta forma informal e revelando desde logo uma grande proximidade com Silvério Regalado, que o Secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, se dirigiu a uma plateia de centena e meia de empresários, que participavam no 5.º jantar-conferência do Jornal da Bairrada, em Vagos, na penúltima quarta-feira, dia 1 de junho.A iniciativa contou ainda com a participação de Victor Neto, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, e de José Couto, presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC).
Confessando que, desde a sua tomada de posse, mantém uma relação muito próxima com o presidente da Câmara de Vagos, João Vasconcelos teceu-lhe rasgados elogios, congratulando-o pelo seu trabalho. “A maneira como ele defende os vossos interesses, a maneira como ele luta pela atração de investimento para Vagos, a maneira como ele luta pelas empresas que já cá estão… é muito raro encontrar um presidente da câmara assim. És um dos melhores exemplos que conheço no país, desta nova geração de autarcas, que tem como prioridade não só o espaço público e a componente social, mas também uma componente económica, no apoio ao empreendedorismo, no apoio ao empresário e na criação de condições de qualidade de vida para atrair mais quadros para essas empresas.” Por tudo isso, deu os parabéns a Silvério Regalado, sublinhando que “tudo o que corre bem a Vagos, é bom para Portugal”.
Antes ainda de se dirigir ao restaurante O Barracão, onde decorreu o jantar, o Secretário de Estado passou pela Zona Industrial de Vagos, afirmando ter ficado com a ideia “que estamos num país diferente daquele que se ouve em Lisboa ou quando ligamos as televisões”. Admitiu que há problemas para resolver, de infraestruturas, custos de energia, etc., mas “há uma revolução a acontecer na indústria portuguesa e Vagos é um ótimo exemplo disso”. “Infelizmente, essa revolução é silenciosa, mas eu estarei cá para a testemunhar, do lado do governo sabemos aquilo que vocês estão a fazer todos os dias”, destacou.
Tecido empresarial aveirense “é irrequieto e ambicioso”. Frisando que estava na região pela 14.ª vez, o Secretário de Estado enalteceu o facto de Aveiro ser hoje “o terceiro maior distrito do país em volume de negócios, em valor acrescentado e em exportações”. Conhecedor do tecido empresarial da região, realçaria o facto de a região ter sabido manter a indústria tradicional “vibrante e competitiva”, assegurando inovação e transferência de tecnologia para as suas empresas.
Um tecido empresarial que classificou de “irrequieto e ambicioso”, que soube crescer, “respondendo a mercados externos altamente exigentes em circunstâncias de acesso ao crédito muitas vezes limitadas e num cenário de perda de recursos humanos qualificados para o estrangeiro”.
Em Vagos, o Secretário de Estado da Indústria deixou ainda a indicação de que “o Governo está apostado em ajudar as empresas a crescer”, apoiando-as no caminho para os mercados externos.
João Vasconcelos destacou, entre outras, as medidas do Programa de Reformas que se destinam “a apoiar a internacionalização e que consistem num programa orientado para atração de IDE para atividades de inovação, na promoção de clubes de fornecedores de PME para empresas estrangeiras de maior dimensão e no alargamento da capacidade exportadora do país através da qualificação das empresas.”
Sublinhou ainda que o governo está igualmente focado na criação de emprego, e no apoio a novas empresas criadas por uma nova geração de empreendedores.
Referiu-se ainda ao Startup Portugal, que consiste numa Estratégia Nacional para o Empreendedorismo e cujas medidas de apoio passam por “linhas de cofinanciamento com Capitais de Risco e com Business Angels, a criação de uma Rede Nacional de Incubadoras e de Fablabs ou a criação de vales de Incubação, que vão permitir disponibilizar 10 milhões de euros para contratar serviços às incubadoras”.
Já sobre a temática desta nova revolução, conhecida por Indústria 4.0, o Secretário de Estado destacou que se “caracteriza pela introdução de um conjunto de tecnologias digitais nos processos de produção, na relação entre os vários intervenientes na cadeia de valor, na relação com o cliente ou mesmo no modelo de negócio”. Uma revolução já em marcha em vários setores e onde é “fundamental investirmos”.
“A Europa tem de liderar a Internet da indústria e não pode ficar para trás, como fez com a Internet do consumo”, sublinhou, defendendo em Vagos “a integração e partilha de conhecimento, nomeadamente com centros tecnológicos, politécnicos e Universidades.”
Aos presentes deixaria ainda a indicação de que “ao Governo compete iniciar a discussão e criar condições para que possamos estar na linha da frente desta inovação”, enquanto que aos empresários “cabe estar atentos para que as oportunidades sejam bem aproveitadas.”
“Não há motivo para que não possa existir a partir de Portugal uma base qualificada de fornecedores de soluções de base para a Indústria 4.0 e para que as startups portuguesas não possam liderar no mercado global enquanto agentes de inovação dos setores mais tradicionais.”
Por isso, a tutela anunciou recentemente uma nova linha só para investir nessas startups: “São 10 milhões até ao fim do ano para empresas em early stage desenvolverem os seus produtos e protótipos, com apoios que podem ir até aos 500 mil euros por empresa.”
Problemas e soluções. José Couto, empresário com responsabilidade na gestão de empresas e presidente da direção do Conselho Empresarial do Centro/Câmara de Comércio e Indústria do Centro e vice-presidente do Conselho Geral da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), começou por falar do paradigma da indústria que “se está a alterar”, tendo pela frente a 4.ª revolução industrial. Um desafio em relação ao qual é necessário perceber se Portugal está preparado: “As empresas portuguesas estão preparadas e reconhecem a importância deste desiderato?”, questionou.
Sendo a produtividade da indústria portuguesa baixa (cerca de 70% da média comunitária) e com uma intensidade tecnológica “abaixo das congéneres europeias”, avançou que “estamos abaixo do desejado”.
Por isso, acredita que no futuro haverá outra indústria – o que vai alterar o conceito de competitividade. As palavras de ordem são, segundo José Couto, “inovação, tecnologia e qualidade dos recursos humanos”, sendo também “incontornável a importância da inovação para a indústria 4.0.”
Daí que tenha sublinhado a esta plateia de empresários que “o processo industrial não pode passar ao lado da inovação tecnológica, porque só assim haverá saltos competitivos.”
“São as soluções tecnológicas adequadas e desenvolvimento dos recursos humanos que constituem a base dos pressupostos da Indústria 4.0.”, diria, acrescentando que “haverá então ganhos de produtividade, diminuição dos custos de produção, ganhos de margem e criação de empregos qualificados.”
José Couto defende ainda que o país precisa de trabalhar mais na interação entre empresas e centros de saber; assim como há que ter uma atitude dirigida e consequente no estabelecimento de parcerias.
Deixou ainda a indicação de que o Conselho Empresarial do Centro, há três anos, aquando da preparação do Portugal 2020, realizou um estudo que permitiu identificar um conjunto de constrangimentos e dificuldades: “dificuldade de comunicação entre empresas e estabelecimentos de ensino superior; falta de confiança; incapacidade de dar resposta em tempo útil às necessidades das empresas; fraca motivação por parte dos investigadores para trabalhar em conjunto com as empresas; fraca estrutura organizacional das empresas para adotar novos procedimentos; assim como os empresários das PME’s não reconheciam a importância do processo de investigação como fator de competitividade.” Um estudo realizado há três anos, mas que agora revisitado, resultou em respostas em muitos casos idênticas às daquela altura.
Este responsável destacou ainda a importância do Programa Qualificar para as empresas poderem entrar na Indústria 4.0.
Referiu ainda existir, hoje, uma forte perceção da importância do desenvolvimento e da introdução de tecnologias no processo produtivo por parte das PME’s que começam a reconhecer os centros tecnológicos como importantes parceiros.
4.ª Revolução Industrial. Victor Neto, investigador e professor auxiliar convidado do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, falou aos presentes da importância e necessidade que as empresas têm em adaptar-se às novas tecnologias, “cada vez mais pequenas e mais potentes” e que estão em tudo: “atualmente, 90% dos computadores estão embebidos em equipamentos, nos nossos carros e em utensílios que usamos no dia a dia.”
Para este responsável, a Indústria 4.0 é a 4.ª revolução industrial, ou seja, aquela que quer “transformar toda a nossa produção e dar o salto para algo que incorpore mais tecnologia”. Com isto, quis dizer que, num futuro próximo, os produtos serão completamente personalizados, tornando cada um deles único, à necessidade do cliente/consumidor.
O resultado será mais produtividade em todos os aspetos e uma melhor eficiência de materiais (menos gastos com materiais, com energia).
Na ocasião, não deixou de destacar a importância das pessoas nesta revolução: “elas são um fator importante”, assim como sublinhou o desafio que será para as empresas “passar a utilizar menos recursos materiais e energéticos”, mas também “partilhar informação – tudo o que é conhecimento deve ser acessível a todos.”
Convicto de que surgirão novos modelos de negócio, Victor Neto terminaria dando a conhecer aos empresários o Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, que trabalha na área da investigação e desenvolvimento de projetos, e também em cooperação com a sociedade.
Da ruralidade à industrialização
O anfitrião da noite foi o autarca Silvério Regalado, presidente da Câmara Municipal de Vagos.
Na ocasião, dirigiu-se ao Secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, como um aliado, “um amigo da indústria”, que tem apoiado o município vaguense.
Perante a vasta plateia, Silvério Regalado referiu-se ao tema da conferência (Indústria) como “um setor que Vagos tem estimado muito ao longo dos últimos anos”. E, na realidade, quem passa pelas zonas industriais deste município, facilmente se apercebe da importância e investimentos ali realizados pela autarquia.
O edil recordou que, há apenas 25 anos, este era um concelho marcadamente rural e ao longo destas duas décadas e meia, sofreu grandes transformações. Muito devido a “empresas que, em Vagos, ajudaram nestes últimos anos a balança comercial do concelho de Vagos.” Por isso, avançou que o saldo das exportações é de 62 mil milhões de euros superior às importações, num concelho que exporta 172 mil milhões de euros e importa 110 mil milhões de euros.
E, sendo a indústria transformadora responsável por 45% da faturação das empresas no concelho de Vagos – na ordem dos 200 milhões de euros -, Silvério Regalado referiu-se ainda ao facto de o concelho registar a menor taxa de desemprego no país.
Durante o jantar, transmitiu ao Secretário de Estado um leque de preocupações, nomeadamente quanto ao processo da revisão dos fundos comunitários, que torne possível a ligação da A17, à ZI de Vagos e seguidamente à A25 e ao porto de Aveiro. Vias que considerou fundamentais e estruturantes para a competitividade das empresas do concelho. Depois, elencou ainda algumas preocupações relacionadas com a legislação sobre áreas industriais; licenciamentos industriais e ligação da energia elétrica.
Ainda que favorável à descentralização de competências para as autarquias locais, Silvério Regalado defendeu que estas têm de ser dotadas de recursos financeiros e humanos. “É preciso desburocratizar”, sublinhou, destacando ainda que “os empresários que aqui estão não andam à cata de subsídios do Governo. Só querem que os deixem trabalhar”.
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