Europeias - Sousa Franco morre na sequência de ataque cardíaco. Agência Lusa.
O cabeça de lista do PS às europeias, Sousa Franco, sofreu hoje um ataque cardíaco no decorrer de uma acção de campanha na lota de Matosinhos, disse à Agênncia Lusa fonte oficial da campanha socialista. A acção de campanha terminou hoje abruptamente após desacatos entre apoiantes de Narciso Miranda e Manuel Seabra, ambos do PS e candidatos à Câmara de Matosinhos nas autárquicas de 2005. Sousa Franco foi levado para uma unidade hospitalar do Porto, segundo a mesma fonte. O Partido Socialista suspendeu provisoriamente todas as acções de campanha, disse a mesma fonte. Sousa Franco acabaria por não resistir ao ataque cardíaco e morreu.
Candidato viveu acção agitada em Matosinhos
Sousa Franco faleceu hoje, vítima de ataque cardíaco, cerca de uma hora depois de ter participado numa acção de campanha na lota de Matosinhos, onde foi apanhado numa "guerra" de facções entre socialistas da concelhia local. O cabeça de lista socialista, de 61 anos, chegou à lota de Matosinhos às 08:30 horas e logo nos primeiros momentos encontrou um ambiente de conflito aberto entre apoiantes do presidente da Câmara, Narciso Miranda, e o líder da concelhia local do PS, Manuel Seabra. Perante o ambiente de confusão, onde se registaram algumas agressões entre membros das duas facções, Sousa Franco foi retirado 15 minutos depois da lota de Matosinhos, tendo sido escoltado por elementos da comitiva socialista para o hotel onde estava instalado no Porto. No hotel, sentiu-se mal e foi imediatamente encaminhado para o serviço de urgências do Hospital Pedro Hispano, onde entrou às 09:53 horas e faleceu três minutos depois, vítima de paragem cardio- respiratória.
Candidato desvalorizou agitação em Matosinhos
Sousa Franco tentou hoje, até ao último momento, desvalorizar os incidentes na lota de Matosinhos, dizendo, antes de abandonar o local, que estava "prevenido" em relação a tudo e que se tratou de "um bom exercício físico". "É um bom exercício físico, sobretudo humano e emocional", que revelou "o entusiasmo e a força de Matosinhos e do Porto", declarou o cabeça de lista socialista, quando se preparava para entrar no seu carro. "Isso é o que conta, o entusiasmo e a força do Porto e de Matosinhos", repetiu o antigo ministro das Finanças de António Guterres, acrescentando que "estava à espera" do ambiente que iria encontrar na lota de Matosinhos. A sua declaração foi depois interrompida por gritos de populares. Sousa Franco entrou logo a seguir no carro, aparentando estar bem. Um pouco mais à frente, no percurso para o hotel, o cabeça de lista socialista às eleições europeias começou a sentir-se mal, acabando por falecer no Hospital Pedro Hispano, vítima de uma ataque cardíaco.
Reacções
Mário Soares "chocado" diz que é "enorme perda" para o país
O ex-Presidente da República Mário Soares manifestou-se hoje "chocado, surpreendido e aflito" com a morte do ex-ministro das Finanças e actual cabeça de lista do PS às eleições europeias, que considerou uma "enorme perda" para o país. "Fiquei extremamente surpreendido e aflito, em estado de choque", afirmou Soares em declarações à agência Lusa, destacando a forte e longa amizade que, desde o 25 de Abril, a sua família mantinha com a de Sousa Franco. Declarando um "grande respeito e admiração pela frontalidade e firmeza das convicções políticas e religiosas" de Sousa Franco, Mário Soares disse que o ex-ministro das Finanças "era e sempre foi um social-democrata a sério e uma pessoa muito católica, ligada à instituição eclesiástica". "Era uma pessoa de grande capacidade como técnico de finanças e financeiro e que tinha o respeito de todo o sector intelectual português", disse. "Gostava imenso dele e é uma perda enorme para o país", acrescentou. Questionado sobre como deveriam decorrer os últimos dias de campanha para as eleições do próximo domingo, Mário Soares afirmou que caberá agora aos responsáveis da campanha resolver o que fazer. "Os partidos é que têm de pronunciar-se em primeiro lugar, mas penso que, de qualquer maneira, tem que se fazer a eleição e tem que se votar". Na opinião de Mário Soares, este acontecimento deverá ser "um incentivo para que [os portugueses] votem ainda mais e num sentido de fidelidade às ideias de que fez propaganda, com tanto brilho, o professor Sousa Franco". Disse.
Primeiro-ministro manifesta-se "profundamente chocado"
O primeiro-ministro, Durão Barroso, manifestou-se hoje "profundamente chocado" com a "triste notícia" do falecimento de Sousa Franco, cabeça de lista socialista às eleições Europeias, tendo suspendido a reunião do Conselho de Ministros. "A vida é o bem mais precioso de todos. Para além do percurso e das opções políticas de cada um, o que conta são as pessoas", disse hoje numa curta declaração, lembrando a carreira académica de Sousa Franco. O primeiro-ministro acrescentou ter já apresentado condolências à família de Sousa Franco.
Pires de Lima fala em "momento de dor" para o país
O porta-voz do CDS-PP, António Pires de Lima, considerou o dia de hoje como "um momento de dor e tristeza para a vida pública nacional", depois da morte do cabeça de lista socialista às eleições europeias, Sousa Franco. O dirigente popular disse ter recebido a notícia da morte de Sousa Franco com "profundo choque e consternação", sublinhando que "a vida humana é o bem mais precioso". Pires de Lima manifestou "os sentidos pêsames à mulher e família do professor Sousa Franco, bem como ao Partido Socialista".
Federação de Aveiro do PS
A morte do Sr. Professor Sousa Franco constitui uma enorme perda para o País, para a Universidade e para a política portuguesa. Há dois dias tinha estado connosco em Aveiro, em campanha, contagiando todos com o seu entusiasmo e brilhantismo, mas também com a simplicidade e afabilidade própria dos espíritos de eleição. A Universidade e a Faculdade de Direito perdem um dos seus professores mais ilustres. Soube deixar uma obra notável e fazer escola e todos os que tiveram o privilégio de com ele privar o reconhecem como um mestre exigente e atencioso, disponível e estimulante. A política portuguesa está agora mais pobre. Na breve história da nossa democracia, o Sr. Professor Sousa Franco teve um papel sempre activo e de grande relevo, como parlamentar, líder político, Presidente do Tribunal de Contas e um dos melhores Ministros das Finanças de Portugal. Portugal deve muito ao Sr. Professor Sousa Franco. A morte surpreendeu-o em plena campanha para as eleições europeias. Estava a ser um candidato soberbo, de uma dedicação extrema, de uma entrega sem limites, de uma postura cívica exemplar. A morte surpreendeu-o a lutar pelos seus e nossos ideais e a pugnar por um Portugal que ele sabia e sonhava poder ser mais justo e solidário.
Portugal todo está de luto.
A Federação Distrital do Partido Socialista terminou imediatamente todas as acções de campanha eleitoral, e apresenta a toda a família do S. Professor Sousa Franco e, muito em especial, à Sra Dra Matilde Sousa Franco, a sua profunda consternação pelo falecimento. Perdemos um homem brilhante, um professor notável, um pedagogo de excelência, um mestre raro, um político de convicções, de princípios e de coragem, um homem a quem muito deve a cidadania portuguesa e o futuro de Portugal.
P`la Federação de Aveiro do Partido Socialista
(Alberto Souto)
Aveiro - Força Portugal
As estruturas político-concelhias de Aveiro dos partidos políticos "PPD / PSD – Partido Popular Democrático/Partido Social Democrata" e "CDS/PP – Centro Democrático Social/Partido Popular", coligados para a campanha eleitoral para as próximas eleições europeias que decorrerão no próximo dia 13 de Junho de 2004, vêm pelo presente comunicar a toda população aveirense, seus militantes e demais apoiantes, o falecimento do Ex.mo Senhor Prof. Doutor António de Sousa Franco, militante do partido político "PS - Partido Socialista" e líder da lista candidata deste partido às referidas eleições europeias, ocorrido, hoje, dia 9 de Junho de 2004, em virtude de uma paragem cardio-respiratória. Mais comunicam que todas as acções e iniciativas decorrentes da mencionada campanha eleitoral se encontram naturalmente canceladas, a fim de se reservar um período de recolhimento e pesar político-institucional pela memória do finado. Pelo decesso do Ex.mo Senhor Prof. Doutor António de Sousa Franco apresentam as estruturas político-concelhias de Aveiro dos partidos políticos CDS/PP – Centro Democrático Social e PSD/PPD – Partido Social Democrata/Partido Popular Democrático as sentidas condolências aos seus familiares, amigos e, bem assim, ao Partido Socialista, na pessoa do seu Secretário-Geral e a todos os seus militantes.
Aveiro, 9 de Junho de 2004
A Coordenação de Campanha Concelhia da Coligação Força Portugal
CDS-PP PSD-PPD
António Granjeia Élio Simões
Declaração de Antero Resende, candidato da CDU ao Parlamento Europeu
É com profunda consternação e pesar que envio os meus sentidos pêsames à família e ao Partido Socialista, prestando a minha homenagem ao homem e ao democrata que foi o Professor Sousa Franco. Esta hora inesperada é de dor e profunda solidariedade para com os que com ele privavam e partilhavam combates, particularmente a sua família. A CDU, como forma de se associar ao luto pela morte do Professor Sousa Franco, cabeça de lista do PS, para o Parlamento Europeu, suspendeu as acções de campanha que estavam previstas para hoje, dia 9, no Distrito de Aveiro.
Aveiro, 9 de Junho de 2004 Antero Resende
Sampaio "profundamento chocado" com a morte de Sousa Franco
O Presidente da República manifestou-se "profundamente chocado" com a morte de Sousa Franco, tendo cancelado todos os eventos que estavam previstos para esta quarta-feira, em Bragança, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal. "Fomos esta manhã surpreendidos com a brutal notícia da morte do prof. Sousa Franco. Estou profundamente chocado", declarou Jorge Sampaio à chegada ao aeródromo municipal de Bragança, para onde se dirigiu para participar nas comemorações destinadas a assinalar o 10 de Junho, Dia de Portugal. O Presidente manifestou as suas "muito sentidas condolências" - em particular para com a mulher do cabeça de lista do PS às europeias, Matilde Sousa Franco. "Portugal perde um grande democrata, um eminente professor de Direito, um muito distinto parlamentar, um destacado servidor do Estado a quem a República e a democracia muito deve", afirmou Jorge Sampaio. Ainda sobre o cabeça de lista do PS e ex-ministro das Finanças do governo de António Guterres, o chefe de Estado afirmou que Portugal e a vida democrática nacional "está mais pobre" com o desaparecimento de Sousa Franco.
Cronologia
O cabeça-de-lista socialista às eleições europeias, Sousa Franco, de 61 anos, deu entrada no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, às 09:53, com uma paragem cardio-respiratória irreversível, tendo falecido três minutos depois, disse à Lusa o director clínico do hospital. Na sequência da morte de Sousa Franco, o PSD e CDS-PP suspenderam já todas as acções da campanha eleitoral da coligação "Força Portugal".
Biografia
António Luciano Pacheco de Sousa Franco nasceu em Lisboa há 61 anos e morreu hoje vítima de ataque cardíaco, em Matosinhos, durante uma acção de campanha eleitoral como cabeça de lista do PS às europeias do próximo domingo. Sousa Franco destacou-se na política nacional como ministro das Finanças do primeiro governo socialista de António Guterres, e era agora o cabeça de lista do PS às eleições europeias marcadas para 13 de Junho. Homem de formação católica, chegou a pensar seguir o curso de Engenharia, mas acabaria por se formar, com média de 18, em direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Foi nesta faculdade, bem como na Universidade Católica, que dedicou parte da sua vida como professor. Depois do 25 de Abril foi nomeado por Vasco Gonçalves presidente da Caixa Geral de Depósitos, cargo que abandona passados quatro meses. O político, que chegou a participar na elaboração dos primeiros estatutos do CDS, antes mesmo da sua fundação, acabou por se filiar no PPD/PSD em 1974, tendo chegado a presidente dos sociais- democratas no início de 1978, cargo que abandonou quatro meses depois em divergência com as linhas dominantes sociais liberais. No ano seguinte abandonou o partido em ruptura com Sá Carneiro, juntamente com outros membros, com quem viria a fundar a ASDI. Acabou, nessa altura, por fazer uma aproximação à esquerda, quando, em 1976, ocupou o cargo de secretário de Estado das Finanças, com Zalgado Zenha como ministro da tutela do Governo de Mário Soares. Em 1979 é, por pouco tempo, ministro das Finanças de Maria de Lurdes Pintasilgo. Mais tarde, alia-se a Mário Soares na FRS, uma frente para combater a AD. Apoiou Freitas do Amaral nas presidenciais de 1986, de que Soares saiu vencedor, e apoiou Marcelo Rebelo de Sousa para a Câmara de Lisboa em 1989. Voltou a ocupar um lugar de Estado, em Junho de 1986, com o convite de Miguel Cadilhe, então ministro das Finanças de Cavaco Silva, para presidir o Tribunal de Contas. Foi ministro das Finanças durante o primeiro Governo de António Guterres (1995/1999). Entre 1996 e 1999 representou o PS no grupo dos Partidos Socialistas Europeus, tendo sido redactor da declaração de Atenas sobre "Crescimento, emprego e coesão social" (1997) e da declaração do PSE intitulada "A nova via económica. Reformas económicas na UEM" (1998). Em 2004 foi escolhido pelos socialistas para liderar a lista do partido às eleições europeias, tendo como companheiros de campanha António Costa, Ana Gomes e Elisa Ferreira. |