Às vezes, é difícil saber se os nossos responsáveis pela segurança do país, estão brincando com o fiel pagante. É mesmo possível que estejam convencidos de que conservar o povo num ambiente de medo é bom para o país, e afasta os terroristas. Se este jogo afasta realmente os fanáticos suicidas, então, é, bom que continue. Os nossos irmãos que vendem o medo do inferno, também julgam que o rebanho humano é mais dócil e mais fácil de tanger, com umas doses de medo de vez em quando. Como todos sabem, os nossos dirigentes assustaram, há dias, o país, dizendo ter recebido informação altamente secreta, de que os talibãs estavam planeando um ataque contra pontos estratégicos dos Estados Unidos. E desta vez , eram os centros da finança e o Banco Mundial, que estavam na mira dos fanáticos do Islão. Toda a gente acreditou, e eu também. E, no meu noticiário da manhã, disse aos meus ouvintes o que já todos sabiam. Que nova informação, altamente secreta, chegara aos ouvidos dos nossos capitães da Segurança, dando conta dos terríveis intentos dos inimigos .Mas como estes avisos já estão sendo tão periódicos, as pessoas encolhem os ombros e dizem de si para consigo: “O que for, será”, como se diz na minha terra de S. Miguel de Soza. E vão à vida, que a morte é descanso, como se diz também por lá. E, na verdade, não há outra coisa a fazer. Os nossos responsáveis têm gritado tantas vezes ao lobo que, quando o lobo estiver mesmo à nossa porta, correm o risco de ninguém os acreditar. Se estes gritos de “Aqui Del Rei”,têm realmente o condão de afastar os génios do mal, que o processo se repita, a bem da nação e da nossa pele. Mas, se a coisa se está tornando num truque político, isso aí, mais devagar. Nao se pode brincar com a boa fé do povo. E demais, quando o “New York Times” acaba de revelar que a informação, agora vinda a público, há três anos que era conhecida. Parece mentira, mas é verdade. Todo este exercício de prevenção, julgando nós que os terroristas estavam mesmo prestes a lançar um ataque, quando esta informação colhida pelos nossos serviços secretos, era anterior ao ataque de ll de Setembro de 2001, ora isto não se faz ao respeitável público. Nós todos a julgar que os nossos peritos em espionagem haviam realmente escutado os terroristas a planear um novo ataque. Quando essas conversas secretas dos fanáticos muçulmanos haviam sido escutadas há mais de três anos! Ora isto é mesmo para tornar da cor dum tição a cara dos nossos agentes, que só agora se lembraram de dar a público conversas escutadas há mais de trinta e seis meses. E porquê, agora, no meio duma campanha política, em que está em jogo o emprego do sr. George Bush? Em três anos, não houve qualquer oportunidade de dar a público esta informação, dando-lhe agora actualidade, como se tivesse acontecido há dias? Desculpem os responsáveis pela nossa segurança, mas isto não está certo. E, se o “New York Times” não vinha a público dizer que a informação era velha, o nosso presidente e os seus ajudantes da secreta passariam por gente que está a pau com o serviço e atentos ao jogo dos terroristas. Mas assim, não vale. Foi um soco abaixo do cinto em todos nós. E o que vai o povo dizer e pensar, quando o nosso chefe da segurança vier com novo aviso? Vamos pensar de que, desta vez, é verdade, ou se trata de mais um fiasco ?Se fosse apenas com um ano de atraso, vá que não vá. Mas meter medo ao país, com informação de três anos a esta parte, ainda anterior ao ataque de 11 de Setembro, é coisa que nunca se viu nesta América do Tio Sam. Digam o que disserem, mas mentir assim ao povo não está certo, não, senhores. E o engraçado é que os capitães da finança na Wall Street, parece que já sabiam que o aviso era falso, pois as acções da Down Jones, nesse dia, registaram um avanço de 39 pontos. Os homens da Wall Street não se assustaram com as ameaças contra precisamente os maiores colossos da finança Americana. E no Mercado dos petróleos, o barril do crude chegou a 42 dollars o que, decerto, deixou contentes os homens das gasolinas, que estão tendo lucros de biliões, graças ao alto preço dos combustíveis. Para todos estes cidadãos maiores e vacinados, as ameaças de três anos dos talibãs, não meteram medo e eles continuaram a fazer muito pacatamente os seus negócios e ainda bem. Que, neste mundo político-religioso em que vivemos, alguém tem de ter o juízo todo no meio da cabeça.
Manuel Calado
Jornalista
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