Investigadores da UA publicam na PNAS descoberta de estruturas calcárias formadas por microalgas de corais. As algas unicelulares que vivem em simbiose com os corais e outros animais marinhos podem formar estruturas calcárias quando na sua fase de vida livre. Esta descoberta, que traz uma perspetiva inteiramente nova sobre a ecologia destes organismos, os dinoflagelados do género Symbiodinium, consta de um artigo assinado por cinco investigadores da Universidade de Aveiro (UA) e um colega da Universidade de Tecnologia de Sydney publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA” (PNAS).
A fase de vida livre de Symbiodinium, a microalga conhecida pela simbiose com os corais, é pouco conhecida. Investigadores da UA e da Universidade de Sydney têm vindo a estudar a fase de vida livre destas microalgas e descobriram que estas, com a participação de bactérias, formam estruturas semiesféricas de carbonato de cálcio. O processo é conduzido pela fotossíntese realizada pelas microalgas, formando-se a estrutura partir de uma película de polissacarídeos produzidos por bactérias. Estas estruturas, até agora desconhecidas e denominadas “simbiolitos”, incorporam as microalgas no seu interior que, no entanto, continuam ativas, a realizar fotossíntese e em contacto com o ambiente exterior através de pequenos ductos.
Estes investigadores também descobriram que, em certas condições, as células de Symbiodinium podem sair dos simbiolitos e voltar à vida livre, podendo funcionar assim como ‘casa de abrigo’ para estas microalgas. O facto de a incorporação nos simbiolitos ser temporária pode ter implicações importantes para a ecologia destas microalgas e dos recifes de coral, explica Jörg Frommlet investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Biologia (DBio) da UA.
É a primeira vez que se identifica um processo de calcificação microbiano conduzido por uma espécie de dinoflagelado, sublinham Jörg Frommlet e João Serôdio. João Serôdio é também investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), professor do Departamento de Biologia (DBio) da UA e supervisor de pós-doutoramento de Jörg Frommlet. Os dinoflagelados são um grupo que reúne espécies pertencentes ao fitoplâncton marinho, de que é um dos principais constituintes, mas também inclui espécies de água doce.
“É incrível que sobre estas microalgas, estudadas desde há décadas e de que resultaram milhares de artigos, ainda se façam descobertas de aspetos tão fundamentais do seu modo de vida”, afirma David Suggett, da Universidade de Tecnologia de Sidney (Austrália).
O artigo publicado na PNAS, intitulado “Coral symbiotic algae calcify ex hospite in partnership with bacteria”, foi assinado por Jörg Frommlet, Maria L. Sousa e Artur Alves, do CESAM e DBio, Sandra Vieira, da Secção Autónoma de Ciências da Saúde da UA, David Suggett, da Universidade de Tecnologia de Sidney, e João Serôdio.
Os estudos têm vindo a decorrer no âmbito do projeto europeu SYMBIOCoRe (SYnergies through Merging BIOlogical and biogeochemical expertise in COral Research), financiado pelo Programa FP7 People, da Comissão Europeia (Marie Curie IRSES - International Research Staff Exchange Scheme) e pelo projeto SeReZoox, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), ambos coordenados por João Serôdio.
Texto e foto: UA
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