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NOTÍCIAS | | | 01-04-2003
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Responsabilidade cívica em momento de crise
António Marcelino
Há já bastantes anos, o facto, porém, ficou-me gravado na memória, falei muito interessado com alguém que conheceu muito bem todo o processo de recuperação da Alemanha no após guerra. Em 1957 eu ainda vira muitas coisas destruídas em cidades alemãs e austríacas. Pois o que aconteceu, é que todos responderam à chamada e se dispuseram a sacrifícios para que a recuperação económica e social se realizasse o mais depressa possível. Com um projecto definido, com a colaboração a que ninguém se negou, com mais trabalho e menos exigências reivindicativas, o milagre operou-se.
Também um dia, no Luxemburgo, num jantar que o arcebispo local proporcionou por motivo das festas da cidade, perguntei ao então primeiro-ministro como se explicava o sucesso económico e social do seu pequeno país. “Nunca tivemos uma greve”, disse ele e acrescentou que “tudo tem de se resolver sem paralisar a produção, com a colaboração de todos, para bem de todos”.
Às vezes falo disto e ouço sempre dizer: “Isso é outra gente!”
A crise que o nosso país atravessa é manifesta. O que se vê para que se possa ultrapassar este momento difícil e crítico? Greves e ameaça de mais greves, sectores importantes a tornarem-se inoperantes, gáudio e profecia de que as coisas não vão mudar, perturbação e os habituais cadeados nas escolas de crianças e adolescentes, universidades em alvoroço, empresas em falência, aumento de desemprego, insegurança e agressividade à flor da pele, suspeitas que logo resultam em condenações.
Será que nós somos mesmos assim e não conseguimos ser de outro modo? Será caminho certo atiçar mais uma fogueira na casa que já está a arder?
Nunca se falou tanto em cidadania e em educar para a cidadania. Mas que significado tem isto, quando a responsabilidade cívica termina à porta dos interesses pessoais e o bem comum parece não ter qualquer sentido que leve a partilhar as dificuldades comuns? Soluciona-se um mal com outro?
É evidente que a greve é um direito, mas um direito condicionado. É certo que os sindicatos podem ter um papel importante, mas não se podem aproveitar, em tempos de dificuldade, que até coincidem com uma inegável fraqueza e desmotivação sindical, para se afirmarem a qualquer preço. Será que as pessoas não vêem o beco para onde se tenta empurrar o país e que da simples mudança política, neste contexto, nada se pode esperar?
O individualismo das pessoas, dos grupos sociais e políticos, será sempre paralisante e incapaz de abrir horizontes e de criar parcerias de acção. Será que não bastou a experiência já vivida em 1975, quando loucamente se destruíram pessoas em empresas e se atrasou um progresso desejável?
Não será preferível caminhar, ainda que com sacrifícios repartidos, a ter, depois de gastar tempo e recursos a reparar danos hoje evitáveis?
*Bispo de Aveiro
(18 Nov / 15:14)
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