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NOTÍCIAS | | | 01-04-2003
| Prova de força e coerência
| Editorial |
| Editorial
Prova de força e coerência
Armor Pires Mota
O governo de Durão Barroso, que se tem mantido muito mais discreto do que Cavaco Silva, deixando mesmo brilhar alguns ministros (brilhos que já têm criado alguns ciúmes entre pares, os elos mais fracos, segundo a opinião pública) deu um primeiro murro na mesa. Como se trata de futebol, podemos dizer que mostrou um cartão vermelho ao insaciável mundo do futebol em geral.
E tanto mais aplauso concitou do público, que é o Zé pagador, quanto é verdade que deu o nega a um homem da sua cor partidária. Ou seja, Valentim Loureiro, que, seguindo a terrível e desavergonhada tendência da sociedade portuguesa, a eterna pedinchice, como quem não quer a coisa, mas queria, atirando às malvas os conselhos acertados do governo quanto a uma contenção de despesas, (e esse “monstro” que é o futebol não pode escapar a essas tarefas) não pedia coisa pouca. Nada menos dos que 40 milhões de euros para fazer face às despesas a mais com a construção dos estádios para o Euro 2004. Em nome do prestígio do país, cujos créditos, em termos de futebol, andam muito por baixo, sobretudo a partir da triste figura que a selecção portuguesa fez na Coreia. É que o anterior governo, aceitou comparticipar em 25% dos custos da construção. Ou fossem 80 milhões de euros. No entanto, este Governo ergueu o peito e foi capaz de dizer: para o EURO 2004 nem mais um tostão.
O que Valentim Loureiro pretendia, no fundo, era que o governo viesse a pagar as diferenças de custos, entretanto verificadas nas obras, isto é, pagar os custos finais. É caso para perguntar: que raio de negócios faz o governo com outras entidades que lhe fornecem orçamentos com valores que não são reais, mas prováveis? Depois no fim acertam-se os números. É de tanto querer justificar o pedido, que não foi inocente (e já veremos porquê), o presidente da Liga, que também é autarca, teve a infeliz ideia de vir dizer que nas câmaras, estas também no fim das obras acertam os números... Se é assim, mal vai ao país que assim seja.
Por que é que o pedido de Valentim Loureiro não é inocente? É que, se o governo caísse em mais uma esparrela a favor dos tubarões do futebol, o “seu” Boavista, que sente algumas dificuldades financeiras junto da Banca por causa da remodelação do estádio do Boavista, matava dois coelhos de uma só vez... só que o tiro (e ainda bem) lhe saíu pela culatra. É que não haverá lugar a qualquer outro tipo de apoios adicionais, comparticipações financeiras ou avales do Estado.
Todavia, o que o povo português quer é que o governo não venha, no futuro, a fazer o contrário. É que os políticos, de quando em vez, sofrem de amnésia crónica. Ainda que fiquem por construir três ou quatro estádios. Se há estádios que sobram para o Euro 2004, depois, então, irão ficar simplesmente às moscas como elefantes brancos de uma megalomania cor de rosa. Ao menos que essa data venha verdadeiramente a constituir um marco para nos redimirmos da pouca vergonha que foi para nós a equipa nacional no último mundial e cujas verdades inteiras nunca mais vêm a lume. Gilberto Madail está mudo que nem um rato à espera de não perder o lugar. Mudo, não. Também tem as mesmas ideias do inefável Valentim Loureiro.
Este murro na mesa, de certa forma, corta com um tempo de cumplicidades múltiplas dos governos com o mundo de futebol, por vezes insaciável e irresponsável, o que vem esvaziar suspeitas, tanto mais que os políticos, bem lembrados do pé na poça, quanto à aceitação das acções do Benfica para garantir o pagamento das vultuosas dívidas ao fisco, não deram agora guarida ao pedido do clube para o fisco protelar as dívidas, em altura de pagamento. Artimanhas que só os grandes conseguem engendrar, quando, por outro lado, mostra que dinheiro é coisa que não falta para os lados da Luz, quando se trata de adquirir jogadores.
Esta é uma prova de força que só fica bem ao governo, na perspectiva de que todos devem apertar o cinto. Só que o rei da Madeira, João Alberto Jardim, não parece disposto a fazer sacrifícios. E, falando grosso, vai mandando recados ao partido e ao governo: que a Madeira não aceita que o Orçamento do Estado apresente limites inferiores aos aprovados em 2002. Concretamente não aceita limites ao endividamento e muito menos cortes no orçamento. Tem sido um rebelde que tem sabido mamar. E lá saberá mais uma vez por que ergue novamente a voz.
E como se anunciasse uma guerra, esquece-se que também ali os dinheiros têm de ser muito bem geridos e isso, segundo as más línguas, é coisa que também ali não acontece.
Que guerras vêm aí? Qual a posição do governo?
Isso é o que adiante se verá.
(27 Ago / 12:13) |
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