Pela primeira vez, as comemorações do 25 de Abril realizaram-se, em Anadia, da parte da tarde. Mesmo assim, o número de participantes foi reduzido, à semelhança de anos anteriores, em que as cerimónias ocorreram da parte da manhã.
Num dia marcado pela chuva e por um sol sempre envergonhado e a aparecer a espaços, o salão nobre dos Paços do Concelho vestiu-se de cravos vermelhos para celebrar Abril.
“É chegada a altura de iniciar uma nova revolução.” Sidónio Carvalho, do CDS/PP, centrou o seu discurso na situação atual que o país atravessa. Falou do desempenho menos favorável do país no índice de democracia, da fraca participação política dos portugueses mas, sobretudo, de um país que “caiu numa crise que parece não ter fim”.
O deputado centrista falou ainda dos “políticos mal intencionados, que só se preocupam com a ambição e poder”, “dos deputados “que lá estão para se governar, comem todos à mesma mesa”, dos “espertos que se elegem a si próprios” e que “vivem eternamente blindados contra o escrutínio e não há nada que os obrigue a pensar no bem público”. Por isso, após 41 anos de democracia, defende ser “chegada a altura de iniciar uma nova revolução, uma revolução de cidadania, de atitude, de palavra e de determinação”.
“Somos um país mais pobre, mais velho e mais triste”. O jovem deputado André Henriques, em nome da bancada do PS, destacou “o muito que há ainda a fazer, em particular pelos jovens”. Portugal, disse, “caiu numa recessão sem precedentes”, “somos, hoje, um país mais pobre, mais velho e mais triste, com menos crianças, menos jovens, menos trabalhadores e menos trabalho”.
Apontou o dedo ao flagelo do desemprego que afeta um em cada três jovens, a uma classe política que caiu completamente em descrédito e que “vive obcecada pelo poder”.
Localmente, valorizou a coligação MIAP-PS, que abraçou um “estilo de governação completamente descentralizado”, com fortes apostas na cultura, desporto, educação, juventude, apoio social e ambiente.
“PSD libertou o povo da agonia”. José Manuel Carvalho, do PSD, não deixaria de lamentar também a cada vez menor participação do povo nestas cerimónias evocativas do 25 de Abril. Aos presentes sublinhou que ao longo destes 41 anos de liberdade, ter sido o “PSD, por três vezes, a libertar o povo da agonia” e que o PSD “soube traçar uma linha estratégica”, em que “não foi preciso outros resgates ou renegociar as dívidas”.
E se a nível nacional o PSD leva nota muito positiva, a nível local, o líder da bancada “laranja” teceu os mais rasgados elogios à atuação dos seus pares. Salientou a postura dos deputados do PSD que defendem os interesses do concelho, não deixando de referir que “nunca em tão pouco espaço de tempo Anadia recebeu tantos representantes de um governo do PSD”. Elogios também para os deputados da sua bancada na Assembleia Municipal: “têm tido um papel muito incisivo na forma como abordam os assuntos”.
Exercício de cidadania. Luís Santos, do MIAP, foi o mais breve e centrou a sua intervenção no exercício de cidadania, onde a pessoa promova a transparência, a abertura, a valorização da diversidade, o combate à discriminação, às práticas mais inclusivas, a cooperação e a participação democrática. Por outro lado, falou da necessidade de participação nos debates e soluções sociais, do ter consciência que não se é dono da verdade, ter capacidade para não fazer juízos apressados, saber gerir e mediar conflitos. Valores que o 25 de Abril de 1974 deveria ter trazido, acreditando que, se assim fosse, “já teríamos encontrado formas de viver que não nos escravizassem ao poder político e protegessem, de forma eficaz, os mais desfavorecidos.”
Integridade, transparência e imparcialidade. A edil Teresa Cardoso falou da necessidade de “nos mantermos fiéis aos traços de uma revolução que provoca e desassossega perante tudo aquilo que nos indigna, individual e coletivamente”. Por isso, entende que “comemorar Abril é ter um espírito aberto aos desafios que devam ser enfrentados, um constante desassossego perante tudo o que de alguma forma fira a dignidade humana e atinja os legítimos direitos dos cidadãos”.
Na sua opinião, hoje, o verdadeiro tributo a Abril passa por “um intransigente registo de atuação, assente na integridade, na transparência, na imparcialidade, na igualdade, na justiça, na coerência e numa extrema sensibilidade social”. E porque os valores de Abril nem sempre foram verdadeiramente assumidos e respeitados, “todos nós devemos incorporar a inspiração, a coragem e a determinação que caracterizou os homens e mulheres de Abril. “Que no exercício das nossas funções honremos a revolução de Abril, os homens e mulheres que dedicaram as suas vidas na defesa da liberdade”, diria.
Liberdades. A terminar, o presidente da AM, Adriano Aires que, por motivos de saúde, pedira à sua secretária que lesse o discurso, destacou os pilares da revolução, “liberdade, democracia e igualdade”, mas também das várias liberdades que é necessário preservar, “liberdade de pensar, de agir, de falar, liberdade de imprensa”.
Destacou os desafios do século XXI, a aposta nas energias renováveis, na educação, a retoma da economia, mas alertando para o facto do “Estado estar corroído pela globalização”, colocando Portugal “ao sabor dos interesses daqueles com quem forçosamente temos de fazer parcerias”. Adriano Aires mostrou-se ainda, a nível local, bastante satisfeito com o “equilíbrio financeiro invejável, sem nunca colocar em segundo plano o desenvolvimento económico do município, o bem-estar de todos e a proteção dos mais desfavorecidos.”
Catarina Cerca
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