Na Mealhada, cada vez mais são as famílias a pedir apoio à Comissão de Proteção de Jovens e Crianças (CPCJ), assumindo-se como a principal fonte sinalizadora dos futuros processos. Esta é a conclusão que chega a presidente da CPCJ/Mealhada, Paula Andrade, que considera a tendência “estranha”, uma vez que no último relatório de atividade desta entidade estão vertidos os resultados que apontam que cerca de 45% dos casos que chegaram para análise vêm das próprias famílias.
“É algo que nos faz pensar. Até há pouco tempo, a CPCJ era vista pelas famílias como um género de ‘bicho papão’ e hoje as famílias procuram a Comissão para resolver problemas que têm em casa”, disse ao JB aquela responsável, lembrando que nos últimos anos eram as escolas e a Câmara, através dos serviços de apoio social, as grandes entidades sinalizadoras.
“Esta nova tendência está a fazer-nos pensar e para a qual ainda não vamos tendo resposta”, assegura Paula Andrade, completando que “as famílias não sabem o que fazer perante alguns problemas” e “procuram a CPCJ, por exemplo, porque os seus filhos consomem substâncias proibidas ou porque se negam a ir para a escola”.
Os números da CPCJ/Mealhada. A braços com falta de recursos humanos para uma maior resposta às solicitações (o que é de resto o grande desafio atual desta entidade mealhadense, referido pela sua presidente), a CPCJ apresentou o seu relatório anual na última Assembleia Municipal da Mealhada, no passado dia 20 de fevereiro, dando conta que geriu no ano passado 114 processos relativos à proteção de crianças e jovens, dos quais 64 foram arquivados, transitando 50 para este ano.
Entre as problemáticas é a negligência que absorve grande parte dos processos, com uma percentagem de 21%, seguindo-se a exposição a modelos de comportamento desviantes e, depois, os casos de indisciplina. A reter também neste relatório, aparecem os casos assinalados como “outras situações de risco”, onde se englobam os diferendos entre pais separados na disputa pelos filhos, uma situação que absorve 11% do volume total de problemáticas.
A CPCJ da Mealhada, que acaba de celebrar 22 anos de atividade, tem um verdadeiro obstáculo pela frente para fazer face às solicitações que recebe, diz Paula Andrade, lembrando a inexistência de funcionários ao serviço da entidade. “A comissão não tem funcionários e só há pouco tempo é que a lei permitiu a existência de uma pessoa a tempo inteiro, ou seja, eu”, destacou.
João Paulo Teles
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