É Natal, Jesus está connosco. Desde a Sua conceção, Ele é verdadeiro homem e verdadeiro Deus: homem como nós, nascido numa família humana, mas concebido pelo Espírito Santo. Ele é o verdadeiro «Emanuel», o Deus connosco (Mt 1, 23).
Este Jesus é a razão do verdadeiro Natal. Celebramos o Seu nascimento. A narração da natividade, tal como a descrevem os Evangelhos, é muito simples: tudo ocorre na solidão e no silêncio. Maria e José são as únicas testemunhas. A grandiosidade de um Imperador que ordena um recenseamento em todo o mundo conflui num humilde presépio, no qual está deitado o Menino.
Assim valoriza Deus o que somos e temos. Quando falamos em “oferecer o melhor que temos ao Senhor”, deveríamos examinar se a nossa escala de valores se ajusta a esta que Deus Pai estabeleceu, preparando o acolhimento ao Seu querido Filho, que nasceu para cada um de nós. O que é verdadeiramente extraordinário é que Deus se fez homem.
A verdade fundamental do nascimento de Jesus é esta: nascido numa aldeia desconhecida, em absoluta pobreza, no seio de uma família humilde, expressa-se a exaltação das coisas pequenas. É nesta pequenez, nesta humildade, que devemos crescer para o acolhimento de Deus e para a entrega de nós próprios ao seu serviço, traduzido no amor generoso e gratuito aos outros. Mas só à luz da Ressurreição podemos avaliar esta pequenez como grão de mostarda que se converterá em árvore frondosa (Mt 13, 32).
No início do meu ministério como bispo de Aveiro, no passado mês de setembro, centrei a atenção nas famílias e nos desafios que se lhes deparam na realização da sua missão. Apelei a que não se fechassem em si mesmas, mas que se abrissem à vida como um dom que vem de Deus. Também a Mensagem do Sínodo dos Bispos sobre a família refere que o amor do homem e da mulher nos ensina que cada um dos cônjuges precisa do outro para ser ele mesmo, mantendo-se diferente do outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom recíproco. É o que exprime de uma forma sugestiva a mulher do Cântico dos Cânticos: «O meu amado é meu e eu sou dele… Eu sou do meu amado e o meu amado é meu» (Ct 2,16; 6,3). Nesta reciprocidade, temos de concluir que só partilhando o Natal alguém pode viver a sério o seu Natal.
A família cristã, como verdadeira Igreja doméstica, deve ser a primeira e principal educadora dos seus filhos. Enquanto pais cristãos, estão obrigados, antes que quaisquer outros, a formar os seus filhos na fé e na prática da vida cristã, através da palavra e do exemplo. Apesar das dificuldades que se deparam hoje à família cristã, ela continua a ser uma estrutura básica na iniciação cristã e inclusive um desafio pastoral: a família cristã não pode renunciar à sua missão de educar na fé os seus membros e ser modelo para as gerações mais jovens. Em tempo de Natal, a manifestação do amor de Deus deve chegar ao seio das famílias com a mesma ternura e ardor que nos é transmitido pela família deste Menino que em cada ano festejamos o Seu nascimento, para que a Sua luz irradie para os que caminham longe da luz.
O modelo da família de Nazaré – Jesus, Maria e José – deve inspirar todas as famílias, porque o amor faz parte da nossa identidade cristã: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35). Devemos amar-nos uns aos outros porque Deus nos ama, e nos amou primeiro, e mostra esse amor enviando o seu filho Jesus, que por amor deu a vida por nós. Aprendamos o amor para sairmos de nós mesmos e irmos ao encontro da grande família humana.
Neste Natal, procuremos estreitar laços, fazer com que o amor de Deus renasça em nós e no coração daqueles que vivem à nossa volta. Que ninguém sem lar, sem pão ou sem trabalho, sem horizontes de vida… nos seja indiferente. Procuremos ajudar a construir, naquilo que estiver ao nosso alcance, um mundo mais belo e mais justo, onde a paz anunciada pelos anjos na noite de Natal se estenda a toda a terra.
Desejo que o nascimento de Jesus seja um desafio a uma vida nova, na esperança de que nos empenhemos para que o ano 2015 seja de graças e bênçãos para todos os diocesanos de Aveiro.
A todos desejo a melhor prenda do Natal!
António Moiteiro
Bispo de Aveiro
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