Diário de Aveiro: A palavra urbanismo remonta ao final do século XIX. Que mudanças surgiram entretanto?
José Carlos Mota: A palavra “urbanismo” tem dois sentidos distintos. Surge como a ciência que planeia e ordena as cidades; e também surge associada à actividade de transformação física das cidades. Mas centrando-me no conceito de urbanismo enquanto a ciência que pensa as cidades, houve uma intervenção muito ligada ao que diz respeito à edificação e do espaço público. Nas últimas décadas tivemos um grande investimento na infra-estruturação física da cidade – na construção de equipamentos culturais, desportivos ou de apoio à actividade económica – e, sobretudo, uma grande expansão da cidade. A forma como a cidade foi crescendo é algo que marcou muito o urbanismo dos últimos anos. Hoje, estamos num dilema: o que fazer com toda esta expansão urbana. O facto de a cidade ter crescido, fez-nos desvalorizar os centros mais antigos, e as pré-existências. E, do ponto de vista económico e social, esta fragmentação tornou estes centros mais debilitados e frágeis. Muitas vezes, ficaram nestes centros as funções menos nobres, as pessoas com mais dificuldades económicas e os grupos sociais mais desfavorecidos. E há a necessidade de repensar o que queremos da cidade como um todo. Hoje discute-se muito como nos podemos organizar colectivamente para dar vida social e económica às cidades. E isto implica outras mudanças.
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