Um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) desenvolveu um dispositivo para tornar mais eficientes os tratamentos de radioterapia contra o cancro e que, por isso, pretende revolucionar a forma e a qualidade com que estes são monitorizados. Trata-se de um dosímetro que permite aos médicos aplicar o tratamento radioterapêutico de forma mais eficiente nas células malignas poupando ao mesmo tempo os tecidos saudáveis, na medida em que fornece informação em tempo real sobre a dose de radiação que está realmente a ser aplicada. O sistema desenvolvido no Departamento de Física (FIS) da UA utiliza sondas radio-sensíveis com um diâmetro inferior a um milímetro que, implantadas junto ao tumor ou mesmo no respetivo interior, permitem quantificar a dose de radiação absorvida. Através de um receptor eletrónico externo, que lê os sinais emitidos pelas sondas, os técnicos radioterapêuticos poderão ter controlo absoluto sobre a distribuição e a quantidade da dose entregue nas regiões a tratar, de modo a garantir que estas sejam efetivamente aquelas que foram calculadas e prescritas pelo médico. A radioterapia é normalmente usada no tratamento de alguns cancros como é o caso do da próstata, do colo do útero, de melanomas ou da degenerescência da mácula ocular. Nestes casos oncológicos, explica João Veloso, coordenador da equipa de investigação, “o papel do dosímetro reveste-se de uma importância particular porque permite-nos obter uma medida direta da dose e controlar o modo como essa deverá ser distribuída”. “Na modalidade de braquiterapia [radioterapia] para a qual optimizámos o nosso dosímetro, os procedimentos clínicos atuais não incluem ainda dosimetria, uma vez que é necessário um aparelho com características particulares”, aponta o responsável pela equipa do grupo Detecção da Radiação e Imagiologia Médica do FIS da UA que concebeu o novo equipamento. Para colmatar a lacuna, o dosímetro desenvolvido por João Veloso, Filipe Castro e Luís Moutinho, “preenche os requisitos necessários para essa função dosimétrica, apresentando grande flexibilidade e dimensões reduzidas, leitura em tempo real, equivalência aos tecidos [absorve radiação da mesma forma que os tecidos moles], independência da dose, da energia e da temperatura, bem como a elevada sensibilidade que é imprescindível nesta modalidade de tratamento”. “Esta sonda de elevada sensibilidade tem um material cintilador que converte radiação ionizante [como é o caso da radiação gama, beta ou X] em luz visível”, explica João Veloso. Embora a luz visível produzida tenha muito baixa intensidade, imperceptível a olho nu, esta é lida por fotodetetores extremamente sensíveis que fazem a multiplicação dessa luz até cerca de 1 milhão de vezes. “Um receptor electrónico rápido e de baixo ruído permite fazer o processamento do sinal em tempo real e converter esta informação da sonda em dose de radiação aplicada”, aponta o investigador. O trabalho dos três investigadores da UA iniciou-se em 2010. Atualmente procuram financiamento para a realização de testes in-vitro simulando o ambiente clínico. Após essa fase pretende-se avançar para testes in-vivo. |