Uma investigadora da Universidade de Aveiro estuda o conceito da moda e a forma de ensinar as competências que lhe estão associadas que, afinal, não são tão unânimes como se julga. Embora o empreendedorismo esteja associado a competências que são, grosso modo, comummente conhecidas, a forma de as ensinar difere de instituição para instituição. Por isso, é necessário identificar boas práticas e encontrar modelos mais eficazes.
Foi o que fez Ana Daniel, investigadora e professora do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da UA, instituição de referência quanto ao espírito empreendedor e na liderança nacional no que ao número de patentes per capita diz respeito. O estudo foi distinguido internacionalmente.
Apesar do crescente interesse e proliferação de cursos e unidades curriculares nas várias instituições de ensino superior, o ensino do empreendedorismo “pode, em termos figurativos, ser comparado a uma caixa negra, dada a pouca uniformidade de objetivos pedagógicos, conteúdo e abordagem entre os programas e cursos”, considera Ana Daniel docente e investigadora do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro (UA).
Coexistem abordagens muito diferentes no ensino do empreendedorismo, afirma a investigadora. Existe uma perspetiva mais tradicional e teórica acerca do tema que se pode designar como educação em empreendedorismo, uma outra mais prática e conducente à constituição de novas empresas, ou seja, educação para o empreendedorismo e, no outro extremo, uma prática empreendedora transposta para o quotidiano que se pode designar educação através do empreendedorismo. “Para além da grande variedade de programas, a análise do impacto”, afirma ainda, “é um processo complexo, pois os resultados positivos obtidos por um programa dificilmente podem ser transpostos para outros contextos, devido a variações do conteúdo, metodologias pedagógicas e de aprendizagem utilizadas”.
“Para além disso”, alerta, “há indícios de que a educação formal não estimula competências empreendedoras e, talvez, até mesmo as
suprima”. Na área maior do ensino do empreendedorismo, o estudo analisou a adequabilidade de métodos de ensino não tradicionais, mais concretamente do design thinking, no estímulo do comportamento empreendedor, onde a experimentação e a prática assumem um papel preponderante e o docente adota o papel de mentor do processo de aprendizagem.
O design thinking é uma metodologia para resolução de problemas complexos surgida na Universidade de Stanford (EUA) que, entretanto, se difundiu pelo mundo. Para além disso, o estudo mediu o impacto da metodologia utilizada nas expectativas dos alunos através da implementação de um questionário a alunos que frequentaram duas das unidades curriculares de empreendedorismo, lecionadas no segundo semestre nesta instituição: uma onde foi utilizada a metodologia de design thinking e outra lecionada de forma dita tradicional.
Na UA são lecionadas um total de cinco unidades curriculares associadas a esta temática, sendo frequentadas por cerca de cinco centenas de alunos de vários cursos. Pioneiro pela abordagem que escolhe, o estudo revela que a adoção desta metodologia tem um impacto significativo na motivação dos alunos, na sua autonomia e capacidade de gerir o processo de aquisição de novos conhecimentos, fatores estes que podem ser determinantes no desenvolvimento de um comportamento empreendedor.
Na 13º conferência Science-to-Business Marketing Conference, que decorreu em Zurique de 2 a 4 de Junho e na qual estiveram quase duas centenas de participantes de 27 países, mereceu a distinção de Best Paper Award.
texto e foto: UA |