“A arte vai morrer em breve. Os construtores foram morrendo e, nas novas gerações, não há quem queira aprender”. O prenúncio é deixado por António Esteves, um dos poucos mestres que ainda se dedica à construção de embarcações tradicionais da Ria. Também no estaleiro da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro (AARBM) as perspectivas quanto ao futuro da arte não são nada animadoras. “Temos um moliceiro a ser terminado e será o último a ser construído aqui”, desabafa Manuel Augusto, presidente da associação criada há mais de 20 anos, com o propósito de defender a Ria e o seu barco tradicional.
Um dos projectos desenvolvidos pela AARBM passou, precisamente, pela criação de um estaleiro naval para formar construtores navais, mas, tal como reconhece Manuel Augusto, “não funcionou”. No entender deste dirigente associativo, a ameaça que paira sobre o futuro da construção naval na laguna aveirense está inserida num fenómeno mais global e que assenta no momento actual que a Ria de Aveiro enfrenta (ver caixa).
Ria já não vive
a dinâmica de outrora
Também o mestre António Esteves, que tem estaleiro em Pardilhó (Estarreja), faz questão de lembrar que a Ria já não vive a dinâmica de outrora. “Já não se faz a apanha do moliço, pois apenas são usados fertilizantes nas terras, e os barcos moliceiros que existem são para andar a passear os turistas”, refere este mestre de 72 anos, que trabalha na arte desde os 10 anos. “Comecei como aprendiz no estaleiro do Henrique Lavoura, mas, em 1973, emigrei, primeiro para França e, depois, para a América”, recorda.
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