Falar da defesa das árvores e da Natureza, não é, politicamente, muito correcto. Os chamados “verdes”, ou amigos da Natureza, são gente suspeita, no panorama realista da política Americana. Os fundamentalistas bíblicos, que hoje são parte integrante do Partido do Elefante, são gente “sui generis”. Gente conservadora, de largos capitais, ainda com saudades do mundo em que seus pais ou avós, mantinham bandos de escravos, sobre os quais tinham direitos de vida e de morte. E este estilo de vida dos antepassados não esquece com facilidade. Na sua memória histórica, existe uma saudade dos tempos em que rebanhos de gente escura, importada de África, como animais de compra e venda, cumpriam as ordens do Senhor, sem levantar a voz nem o olhar. Bons tempos, esses, em que o chicote e a palmatória faziam melhor trabalho do que a polícia de agora, com seus carros e telefones de algibeira.
Os tempos mudaram, mas a saudadesinha dos fundamentalistas cristãos do sul, não morreu de todo. Em politica, esses fumos de aristocracia fora do tempo, transformou-se num conservantismo renhido, que tem como símbolo, um corpulento bicho da selva, chamado elefante. Esses cristãos sulanos opõem-se a tudo que seja progresso social. E humano. Nada de “humanismo”, porque os pregadores milionários da Rádio e TV, têm um nome pejorativo para os humanistas, que consideram inimigos do seu grupo. Tudo o que é “social”, é esquerdista. E esquerdismo, no seu dicionário, é tão mau como o comunismo era antigamente. O que é social, é povo. E povo, não é de fiar
.Por isso esses simpáticos direitistas, são contra o Seguro Social, o Medicare, o Medicaid, e todos os programas, que pretendam dar um pouco de qualidade à vida do homem “pé descalço”. Eles nunca perdoaram ao Presidente Roosevelt, o homem que salvou país da tragédia da Grande Depressão, e deu ao capitalismo americano uma “face humana”. Enquanto existiu o papão comunista, todas as propostas de humanização social, eram de inspiração comunista. E o mais caricato, é que estes cristãos, têm como base da sua fé, a doutrina de um maltrapilho “pé descalço”chamado Jesus, que um dia disse, para quem quis ouvir, que era mais fácil um camelo entrar pelo fundo duma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus.
Para falar a verdade, esta foi uma sentença verdadeiramente reviralhista, politicamente incorrecta, que os rabinos e doutores judeus da lei e da ordem, não podiam tolerar. E não toleraram mesmo. Cristo estava a brincar com o fogo, e queimou-se. E são estes cristãzinhos sulanos, que anseiam agora pela segunda vinda de Cristo. Seria bonito se Cristo por aí aparecesse um dia, a fazer súcia com os homens da taberna, os pescadores e os maltrapilhos da rua, e a pregar contra os gatunos e usurpadores de companhias como a Enron, que deixou milhares de pessoas sem reforma.
Seria bonito, seria! Quanto tempo é que deixariam o pobre do Cristo andar por aí a prégar contra os ricos, sem lhe deitarem o gatázio, e o meterem, numa cela incomunicável?
E são precisamente estes patuscos, que pregam e aguardam a Segunda vinda de Cristo, calculem! Um Cristo que é tão maltratado por estes vendilhões do templo, prontos a negá-lo na praça pública, em troca dum contrato chorudo por baixo da mesa, mesmo que nele esteja envolvida a vida e o futuro de milhões de criaturas.
E afinal, tudo isto veio hoje a propósito de quê? Palavra puxa palavra, e às vezes o bestunto começa a dar guinadas em várias direcções. Mas a ideia inicial, era a de fazer um introito, para um poema que escrevi ontem, a que dei o título de “Réquiem para uma Árvore”. Uma árvore que conheci ainda pujante, e depois vi adoecer, perder as folhas e ficar moribunda. Em simpatia com a aquela criatura arbórea, eu e minha companheira, “Gaivota Picarota”, um dia demos-lhe um abraço, e vimos no espectáculo da sua decadência física, algo da vida de todos nós. E ali ficámos um pouco, abraçando-lhe o tronco e conversando com ela, como se de carne fosse. E quando por ali voltei a passar, vi que a hora final se aproximava, e voltei a abraçá-la, pela última vez. E daí, o” Réquiem para uma Árvore”.
Manuel Calado
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