O baixo financiamento para a construção da incineradora de lixos urbanos na região Centro poderá ser um maior obstáculo ao avanço do projecto do que a polémica em torno da sua localização, disse hoje o presidente da Câmara de Coimbra.
Na véspera da assembleia geral da empresa que quer construir a incineradora, em cujo conselho de administração a câmara de Coimbra está representada, Carlos Encarnação adiantou à Agência Lusa que se o financiamento obtido para a sua construção for de 25 por cento "é economicamente impossível pôr em prática" o projecto, que se estima venha a custar cerca de 150 milhões de euros.
O local da futura incineradora e a aprovação da candidatura do projecto ao Fundo de Coesão são os dois pontos da ordem de trabalhos da assembleia geral da Empresa de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro (ERSUC), marcada para quarta-feira em Coimbra.
A ERSUC recolhe e dá destino final aos lixos de 36 municípios dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria. "Estamos verdadeiramente numa situação muito difícil, porque os aterros estão a esgotar a sua capacidade dentro de pouco tempo", declarou o autarca social-democrata, acrescentando que a incineradora não será construída nos próximos dois anos.
Na área abrangida pela ERSUC existem três aterros: um em Taveiro, Coimbra, cuja capacidade se estima esteja esgotada em 2006, outro em Aveiro e um terceiro na Figueira da Foz.
Carlos Encarnação, cujo município produz cerca de 20 por cento dos lixos no cômputo geral dos 36 concelhos envolvidos no projecto, reclama um financiamento semelhante àquele de que beneficiaram as incineradoras de Lisboa (Valorsul) e Porto (Lipor) - cerca de 50 por cento.
O autarca defende, por outro lado, que a questão ambiental em torno da incineradora "deve ser esclarecida com total limpidez" e que todos os elementos devem ser tornados públicos, dando razão à associação ambientalista Quercus, que ameaçou levar a ERSUC a tribunal caso não lhe fossem facultados os estudos defensores da solução de tratamento de resíduos urbanos em causa.
A construção de uma incineradora na região Centro "já tem uma história longa", referiu, lembrando um estudo elaborado pelas Universidades de Aveiro e Coimbra que apontava Águeda como melhor localização. O município rejeitou essa possibilidade.
Anadia e Aveiro foram os dois locais que surgiram em alternativa, mas o município de Anadia já disse não estar disposto a acolher a incineradora, enquanto Aveiro "pediu tempo para decidir", sublinhou Encarnação.
O local apontado no concelho de Aveiro situa-se numa zona de confluência entre as freguesias do Eixo e de Oliveirinha. Entretanto, o Governo mandou elaborar um estudo sobre as alternativas à construção da incineradora no Centro, esclarecendo, porém, que tal "não condiciona nem atrasa qualquer das soluções previstas nas candidaturas apresentadas, nomeadamente, a da ERSUC".
A Quercus e a associação cívica de Coimbra Pro Urbe promoveram segunda-feira um debate na cidade sobre a política para o lixo urbano em Coimbra e na região Centro. A associação ambientalista contesta a construção da incineradora, alegando que esta solução é "mais cara e menos amiga do ambiente" do que o tratamento biológico-mecânico.
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