Quem pensava que uma iniciativa organizada a pretexto do cancro da mama fosse um acontecimento lúgubre depressa se desenganou. A caminhada “Pequenos Passos, Grandes Gestos”, que ontem se realizou em Aveiro e outras seis cidades da região centro pela quarta vez, teve o seu quê de bailarico. O cantor João Claro ajudou à festa e ao som do seu tema “Virgem Maria” houve quem se pusesse a dançar.
A concentração dos participantes estava marcada para as 14 horas. Aos cem que se inscreveram antes somaram-se quase outros tantos na hora. Pouco depois, e já com muita gente aglomerada junto ao Centro Cultural, João Claro subiu a um pequeno estrado de madeira e cantarolou, para toda a Fonte Nova ouvir, a banda sonora da iniciativa organizada pela Liga Portuguesa Contra o Cancro.
Para falar com Elisabete Azevedo, vítima de cancro da mama há 18 anos, o Diário de Aveiro teve de se infiltrar no interior do Centro Cultural, onde o som lá de fora aparecia desmaiado – ainda assim, era possível distinguir “és a virgem santa imaculada que ilumina a nossa estrada” na voz do artista aveirense. A sexagenária relatou a sua experiência: há 18 anos, tinha então 47, soube que sofria da doença; detectou-a ela própria, através de palpação; do médico de família passou para o IPO; ali fez tratamentos, entre quimioterapia e cirurgia; todos os procedimentos correram com sucesso; hoje considera a batalha “vencida”.
A história de Elisabete é uma história com final feliz. Mas muitas não acabam assim: o cancro da mama é, à parte o da pele, o mais comum entre as mulheres e a segunda causa de morte oncológica entre a população feminina. As campanhas de sensibilização como “Pequenos Passos, Grandes Gestos” desempenham, por isso, um papel determinante. E a verdade, diz Elisabete, é que “cada vez mais pessoas” procuram manter-se informadas sobre a doença (como precaver, como detectar, como tratar…).
O Movimento Vencer e Viver, que tem uma delegação em Aveiro (Rua de Espinho, 9, em Santiago, com atendimentos às quartas e quintas-feiras e aos sábados), é uma peça nesta engrenagem. A associação, constituída por voluntárias a quem foi diagnosticado cancro da mama, actua no apoio emocional às vítimas da doença. Saber que se sofre de cancro “é sempre um choque”, adverte Elisabete. Lidar com a situação é duro e há quem “se deixe abater”. O movimento, que em Aveiro conta com 16 membros, é “um ombro amigo” a quem podem recorrer. “Nunca é de mais falar sobre o assunto”, concorda Manuela Rocha, de 47 anos, envergando uma t-shirts amarela que é a indumentária oficial da caminhada. Mais ao lado, Maria Laura Mendes, da direcção do núcleo da região centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, congratula-se com o aumento do número de participantes na iniciativa. “Estas acções têm muito impacto” e são vistas como um contributo decisivo para transmitir conhecimentos que podem fazer a diferença entre viver e morrer.
No fim do mini-concerto de João Claro, as caminhantes, com alguns homens à mistura, puseram-se ao caminho pelas ruas da cidade – mas, apesar do amargo motivo que deu origem à iniciativa, foi tudo menos uma procissão de gente condoída e mais um arraial de celebração da vida.
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