Os primeiros dez dias da Feira de Março foram tristes como o tempo. Não há feirante que não se queixe. Dos carrosséis aos comes e bebes, todos lamentam a falta de gente.
Ontem ao fim da manhã, quando o Diário de Aveiro visitou o recinto, uma chuva miudinha mas persistente obrigava à permanência de toldos e lonas a proteger as barracas e os divertimentos. Clientes contavam-se pelos dedos de uma mão.
À crise económica soma-se o mau tempo. A intempérie quase não tem dado tréguas. No último sábado não choveu, mas mesmo assim a afluência esteve longe da desejada.
Gorete Rodrigues está sentada num banco corrido à espera de clientes. Na Casa Rodrigues, de Lamego, vendem-se queijos e enchidos. Já não falta muito para a hora de almoço, mas são raros os visitantes que deambulam pelo Parque de Exposições. A feirante participa na feira há “24 ou 25 anos” mas nunca o negócio correu tão mal. “Não me lembro de um ano assim. Não é só o tempo, as pessoas não têm dinheiro”, diz.
A comerciante vai vendendo umas sandes de presunto, uns pratos mistos ou uns queijos. “Mas pouco”, queixa-se. “Este ano não vamos ganhar para pagar o lugar”, acrescenta, advertindo que a Feira de Março “é cara”.
Um pouco acima, entre a restauração e os divertimentos, Mohamed Palesh, natural do Bangladesh mas a viver em Almada, também não tem razões para sorrir. As vendas resumem-se a meia-dúzia de cintos ou brinquedos. “Está pior do que noutros anos”, diz num português esforçado. Pelo que tem visto, esta edição do certame, em que participa pelo sexto ano, não lhe vai deixar saudades.
Uns metros ao lado, um cliente mete um grelhador num saco de plástico. Pouco depois, outro homem compra rolhas. Duas vendas em poucos minutos garantem um punhado de euros a António Dias. Uma pequena televisão está ligada para quando não houver ninguém para atender. Vindo com a família de Guimarães, o negociante vem a Aveiro há três décadas. “Não vendo nem metade do que costumava”. Sertãs, púcaros ou facas vão tendo alguma saída, mas não dá para ter muito lucro. No antigo recinto, no centro de Aveiro, “era melhor”, recorda, esperançado que hoje a afluência de público aumente. “O dia melhor da feira costuma ser a segunda-feira de Páscoa”.
Na zona dos carrosséis o cenário não é mais animador. Ontem ao fim da manhã, com a chuva a cair, os divertimentos estavam fechados. O único movimento era o dos empregados a alinharem os carrinhos de choque ou a limparem os cavalos ou as cadeiras giratórias. No Lago Azul, para crianças pequenas, uma senhora, mãe do proprietário, empurrava o cabo de uma vassoura contra o tecto de lona do carrossel para fazer cair a água que se acumulara. “Logo hoje, que é domingo, está um tempo assim”, afligiu-se.
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