Ana Gabriela Henriques, do Laboratório de Neurociências do Centro de Biologia Celular da Universidade de Aveiro, tem vindo a obter resultados promissores na descoberta de um potencial biomarcador da Doença de Alzheimer (DA). Este pequeno avanço para o conhecimento da doença, que afecta actualmente cerca de 90 mil portugueses, pode permitir, a longo prazo, o seu diagnóstico precoce e uma intervenção terapêutica mais célere.
Como doença degenerativa e progressiva que atinge o sistema nervoso central prejudicando as funções intelectuais do cérebro, a Doença de Alzheimer afecta, actualmente, perto de 90 mil portugueses. Apesar dos avanços científicos o seu diagnóstico é feito essencialmente com base em testes cognitivos e por exclusão de outras demências, identificando esta doença irreversível apenas numa fase moderada ou já avançada.
O estudo, sob a orientação da Professora Odete Cruz e Silva, tem como objectivo principal compreender os mecanismos moleculares induzidos por um pequeno fragmento amilóide denominado «Abeta», que é tóxico para os neurónios quando presente em excesso nos cérebros dos doentes de Alzheimer.
Este estudo, em torno deste fragmento de importância vital para o desenvolvimento da doença, tem o seu enfoque nos efeitos do Abeta no processamento/clivagem da sua proteína precursora: a proteína precursora de amilóide de Alzheimer (APP). Os resultados obtidos em laboratório são promissores, como explica Ana Gabriela Henriques.
«Uma das principais características neuropatológicas é a presença de placas senis nos cérebros dos doentes, estruturas constituídas maioritariamente por Abeta. Depois de alguma investigação observou-se que em resposta a uma concentração elevada de Abeta havia acumulação no interior das células de um fragmento secretado da APP (sAPP).
Do ponto de vista da doença a diminuição extracelular deste fragmento secretado, que apresenta propriedades protectoras para as células, pode constituir um mecanismo pelo qual o Abeta exerce o seu efeito neurotóxico».
Com estes resultados, pretende-se, agora, apurar de que forma o sAPP se comporta em células periféricas, como por exemplo, as células do sangue. Deste avanço está dependente a validação do sAPP como um biomarcador molecular que permitirá, a longo prazo, e em conjunto com outros biomarcadores um diagnóstico precoce da doença de Alzheimer.
Como sublinhou a investigadora, «actualmente o diagnóstico conclusivo da DA só é possível após a morte, com a análise do cérebro dos pacientes. Não há nenhum exame que permita diagnosticar, de modo inquestionável, a doença, sobretudo numa fase precoce. A identificação de um novo biomarcador para o diagnóstico precoce da DA ou para o seu prognóstico pode possibilitar, a longo prazo, uma intervenção farmacológica atempada e eficaz no alívio dos sintomas e na preservação das capacidades, com ganhos efectivos na qualidade de vida».
A identificação precoce da DA é uma das áreas de maior investimento actual por parte das multinacionais farmacêuticas, uma vez que, ao permitir uma intervenção terapêutica mais rápida e consequente atraso no desenvolvimento da patologia, resultaria em poupanças anuais para a sociedade de milhões de euros.
A recolha de amostras junto de indivíduos doentes, indivíduos com défice cognitivo ligeiro (potenciais doentes) e indivíduos sem défice cognitivo servirão para analisar a evolução do comportamento da sAPP, o potencial biomarcador, sendo esta a nova etapa que a investigadora se prepara para percorrer.
texto: UA |