A cerimónia de colocação da “primeira pedra” do Projecto de Valorização da Orla Costeira de Espinho decorreu há quase uma semana. Mas o povo da zona piscatória da cidade não se mostra muito entusiasmado com a obra que promete mudar o visual de quem vive em vizinhança com o mar.
Como quase sempre nestas situações, os populares auscultados pelo Diário de Aveiro não estão muito por dentro dos contornos da intervenção prevista. É um “ouvi dizer”, um “parece que” e um “era bom que”.
Certo é que a “malta” do bairro piscatório e redondezas desconfia dos políticos, como é da praxe hoje em dia, e espera para ver o que sairá das obras. Mas, claro que ninguém discorda da intenção de proporcionar melhores condições de trabalho a pescadores e vendedoras de peixe, que é o aspecto de que mais têm conhecimento.
A sombra do desemprego é o cenário que marca as vidas daquela gente. À pergunta “o que faz?”, quase sempre a resposta começa por “fui” – foi operário ou operária, foi pescador, mas já não é porque o trabalho escasseia. E ao mal próprio junta-se o receio pelo futuro dos jovens, e uma certa vergonha. Daí que uns quantos não queiram ver o nome no jornal e que a esperança em melhorias, como a que poderá advir do projecto em causa, encontre uma “porta” apenas entreaberta.
“Não sei bem o que se está a fazer”. Manuel Almeida mora na envolvência do FACE, o Fórum de Arte e Cultura de Espinho. Nascido e criado por ali, já vendeu tapetes, esteve em França, mas, quando regressou, duas décadas de labuta valeram-lhe a alcunha de “O Peixeiro”.
É dos que não sabe definir com precisão os contornos da intervenção, mas também dos que acha “muito bem” que se “melhore” aquela zona da cidade espinhense. Reformado, e com um restaurante garantido nos anos de trabalho árduo, pensa nos jovens e nas famílias pobres.
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