No processo Face Oculta, a sessão da tarde de ontem foi considerada "surrealista e uma perda de tempo". O advogado de Manuel Godinho comentou assim o testemunho de um segurança que, segundo o Ministério Público, terá sido aliciado pelo empresário de Ovar com 20 euros.
Os apontamentos do vigilante permitiram detetar camiões com cargas a mais não declaradas ou levando peso a menos, conforme os interesses do principal arguido.
Manuel Godinho é suspeito de obter favorecimentos em empreitadas de resíduos com empresas públicas que, tendo em conta só as indemnizações deduzidas por assistentes do processo Face Oculta, rondarão cerca de 2 milhões de euros.
Mas foi o episódio da pretensa tentativa de suborno de um segurança na central elétrica de Alto Mira que fez o arguido com mais crimes regressar ao banco dos réus, onde já não se sentava quase desde o inicio do julgamento.
O vigilante foi ao tribunal de Aveiro identificar o empresário de Ovar como quem lhe colocou na mão uma nota 20 euros enrolada dizendo que era para almoçar.
A testemunha viu na atitude uma tentativa de condicionar o seu trabalho, que até estava a ser muito zeloso, ao ponto de apanhar, em flagrante, cargas fraudulentas de resíduos, com prejuízo para a REN.
Manuel Godinho manteve o silêncio, o seu advogado, Artur Marques, a indignação. “Se temos um aparato desta envergadura montado preocupando-nos com uma gorjeta de 20 euros. Se isto merece tratamento este país bateu no fundo. Se este é também conteúdo de um processo destes é surrealista”.
O segurança Pedro Correia recebeu um louvou dos responsáveis da REN pelo trabalho. Manuel Godinho acabaria por manter os contratos, parecendo gozar de proteção na empresa pública. O MP acredita que não eram apenas os funcionários no terreno, mas também do presidente da elétrica, José Penedos, acusado de corrupção no processo. |