A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro abriu, em 2010, concurso para oito guardas noturnos. Passados dois anos, apenas um lugar está ocupado. Marcos Freitas é o guarda resistente e que patrulha a Zona Industrial de Oiã, que é a maior do concelho e a mais fustigada pelos assaltos.
Queixa-se da falta de apoios das empresas, já que são estas que lhe pagam, sublinhando que o dinheiro que ganha não lhe permite fazer grandes vigilâncias. Mesmo com todos os contratempos, Marcos Freitas faz “um balanço positivo” da sua atuação, no entanto, garante que são as empresas a quem presta serviço e a própria GNR que podem confirmar a sua utilidade.
Conta que já perdeu a noção do número de assaltos que impediu, afirmando ficar entristecido pelo facto de “gastar gasolina, telemóvel, portagens nas perseguições e nem um obrigado recebo, em troca, das empresas que não contribuem para a segurança”.
“Para muitas pessoas que não sabem, eu sou compensado voluntariamente pelas empresas ou pelas pessoas particulares (tenho algumas pessoas a darem-me 5 euros por mês). Muitas pessoas pensam que é a Câmara que me paga, mas é mentira”, justifica.
Risco. O guarda noturno explica ainda que “as empresas que contribuem com o que podem dar estão do meu lado e sabem bem o risco que corro, mas são só essas, porque as outras aproveitam-se da minha passagem para usufruir do serviço”. Contudo, alerta que “apenas irei intervir naqueles que presto serviço”, pois “as empresas ou particulares estão identificadas por um emblema de Guarda Noturno a informar que estou atento”.
Apesar da grande área da Zona Industrial de Oiã, Marcos Freitas afirma que consegue patrulhar toda a zona que “me está destinada, contudo muitas vezes sou obrigado a parar devido às despesas”. “Na zona industrial chego ao meio do trajeto e volto para trás, pois não tenho empresas a contribuir mais à frente, isto acontece na própria localidade de Oiã pelo mesmo motivo (há ruas em que nem sequer passo por lá)”, diz.
O guarda noturno acredita que a sua profissão é um bom complemento à atividade da GNR. “Penso que os tenho ajudado bastante, assim como eles também me têm ajudado. Era muito complicado trabalhar sem eles, mas só os militares poderão dizer se estão contentes ou não com o trabalho que faço.”
Histórias. Com uma profissão arriscada, Marcos Freitas afirma que para trás ficam muitas histórias, mas foi um assalto a uma moradia que mais o marcou. Conta que “entraram pela varanda, dei a volta várias vezes por lá e não dei por nada, só pelas 5h30 da manhã é que vi os portões abertos. Entrei lá dentro e vi que tinham cortado um cofre monobloco com uma rebarbadora”. Entretanto, “um vigilante de uma empresa próxima disse-me que tinha visto, mas que não ligou para mim ou para a GNR, porque tinha medo que eles o apanhassem a fazer a chamada, uma vez que tinha filhos para criar e que não queria correr riscos.” “Pois tens a profissão errada, foi o que lhe respondi.”
Pedro Fontes da Costa
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