Cerca de trinta produtores agrícolas de Sever do Vouga, sobretudo ligados à produção do mirtilo, juntaram-se para combater o que dizem ser “injustiças dos preços” e “falta de transparência”. Eliana Silva, engenheira agrónoma a dar apoio a esta associação, não compreende como é que o mirtilo está a ser pago a 3,50 euros por quilo aos produtores e comercializado a preços que variam entre 25 e 30 euros.
“Como é possível o agricultor, que tem todo o trabalho, desde a plantação à colheita ter um preço tão baixo e o produto chegar ao consumidor a tão elevado preço, sendo considerado um fruto «de luxo», questiona.
A produção do mirtilo em Sever do Vouga triplicou nos últimos anos, mas, mesmo assim, a oferta não chega para as encomendas, dado que cerca de 80% da produção destina-se a exportação. “Torna-se imperativo que os agricultores que nos últimos anos fizeram investimentos no aumento da produção de mirtilo sejam reconhecidos pelo valor do mesmo”, diz Eliana Silva, acrescentando que o objetivo desta associação não é vender ilusões, nem milagres, mas lutar de forma consistente e organizada, apostando na certificação de todos os seus produtores para valorizar o mirtilo, o trabalho e a produção.
A nova associação pretende estar ao serviço dos produtores, diz-se apartidária e independente da distribuição, da indústria e de qualquer outra organização agrícola. Está, no entanto, “disponível para cooperar com todos na resolução dos problemas, salvaguardando a independência e a soberania da produção”, refere a técnica agrária.
Esta nova associação já possui uma rede de frio e instalações provisórias na Zona Industrial de Cedrim. No primeiro dia (5 de Junho) receberam meia tonelada de mirtilo que estão a pagar ao produtor a preços que variam entre 4,50 e 4,75 euros e algumas dezenas de quilos de groselha (a ser paga esta semana a 6 euros o quilo). A associação não está limitada aos associados e qualquer produtor pode vir ali entregar o seu produto. Para este ano o objectivo é atingir às 20 toneladas de mirtilo recolhido.
Os impulsionadores admitem que a nova associação vai ser expandida a outros produtos. “Numa primeira fase vamos executar projectos no âmbito das ajudas comunitárias do PRODER e vender plantas de mirtilo certificadas a 3 euros”, referem, sublinhando que pretendem também apostar na formação agrícola e na certificação. Os responsáveis da nova associação dizem ser necessário “dinamizar a agricultura da região, incentivar o agricultor e dignificar e gratificar quem produz”. Para tal propõem “valorizar o agricultor, ultrapassando os intermediários entre os produtores e consumidores”.
Embora já com contactos estabelecidos com importadores europeus de mirtilo, a nova associação de produtores agrícolas irá apostar no mercado nacional, e não descarta a hipótese de uma campanha que incentive o português a consumir mais mirtilo.
A seguir aos mirtilos, esta associação de produtores agrícolas pretende avançar para um grande investimento em maracujá, esperando plantar 5 000 plantas ainda este ano. A certificação da laranja e do limão do Vouga são outros dos objectivos.
Texto: Edgar Jorge |