Deixou a Bairrada há quase cinco anos e vive em Pétange, Luxemburgo, desde então. Mas é na Mamarrosa, sua terra natal, que Adriana Simões viverá (assim se espera!), no próximo ano, um dos dias mais felizes da sua vida, o dia do seu casamento. Mas um dia não são dias e se, por Adriana Simões, a vida até poderia continuar a escrever-se neste cantinho à beira-mar plantado, já o noivo não está disposto a regressar tão cedo ao país que lhe serviu de berço. Ainda assim, Adriana lá vai admitindo que este nosso país “não tem condições para que os emigrantes regressem”. Por isso, “neste momento, só de férias”, ficando o sonho de voltar adiado talvez por… “20 anos”.
Hoje, Adriana Simões conta 19 primaveras e a JB confessa que saiu de Portugal porque os pais assim decidiram. Recorda as imensas dificuldades que sentiu em integrar-se no novo destino. Sem os avós por perto – e que falta lhe faziam! -, numa nova casa, nova escola (e sistema de ensino) e nova língua. Francês, só as noções que aprendera na escola, mas que se revelavam insuficientes em situações do dia a dia. Valeu-lhe a ajuda dos colegas da turma, “quase todos portugueses”. Mas, fora da escola, quando tinha, por exemplo, de ir às compras, teve de “aprender a desenrascar-se”.
Este foi, aliás, um verbo que teve de conjugar repetidas vezes. “Aqui há muita xenofobia, coisa que em Portugal não se sente. Ninguém explica nada, podemos ter problemas de comunicação que eles não se interessam, por vezes sofremos bastante”, admite a jovem bairradina. Imagem que, na sua opinião, no país onde nasceu não se repete. “Em Portugal, um estrangeiro é recebido muito bem, tentamos que se sinta bem na escola, os vizinhos entreajudam-se e não há aquela atitude de cada um por si. Acho que o povo português (em Portugal), pode sofrer mas ajuda”, exclama.
Sendo o Luxemburgo um dos destinos preferidos dos emigrantes portugueses, é natural que por ali se cruzem muitos conterrâneos. Adriana convive com portugueses, tem vizinhos portugueses e mesmo o noivo é lusitano. “No Luxemburgo, temos rádio, jornal, supermercados, talhos, peixarias, padarias, pastelarias, cafés e restaurantes portugueses, já para não falar nas lojas de roupa e calçado que, por vezes, são geridas por portugueses ou têm empregados portugueses.”
Adriana Simões ainda é estudante. Em Portugal, estudou na Mamarrosa e no IPSB (Bustos). Seguiram-se quatro anos de estudos na Bélgica, “pois é difícil integrarmo-nos no sistema luxemburguês”. Por razões pessoais, não concluiu o secundário. Tem o curso de secretaria em turismo.
“Informem-se bem”
Acompanha as notícias sobre o seu país através da televisão portuguesa. O desemprego, o aumento do IVA, “a falta de ajuda do Governo” são assuntos de que se ouve falar diariamente. “Adoraria que o Governo cortasse mais nos ordenados dos políticos e ajudasse as escolas e naquilo que cada distrito mais precisasse.” Numa situação como a que se vive em Portugal, é natural que muitos pensem em emigrar. Adriana Simões aconselha uma ida ao consulado do país de destino, de forma a informar-se sobre tudo o que seja possível, procurando não deixar “nenhuma ponta solta”. Estar bem informado, garante a bairradina, ajudará decerto na melhor integração.
Oriana Pataco
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