Londres foi o destino eleito por Madalena Martins e o marido há 17 anos. Eram jovens, Madalena estava no desemprego, os tempos que se aproximavam adivinhavam-se difíceis e, por isso, partiram.
Apenas a adaptação à língua inglesa se revelaria mais custosa, de resto “ambientámo-nos na perfeição”, assegura a bairradina, natural de Anadia. Ainda assim, as diferenças do país do Big Ben para Portugal “são imensas”. Começando pelo tempo, terminando nas pessoas. “São extremamente educadas e atenciosas, respeitam muito os outros.” Numa cidade que nunca dorme, onde a turba se forma de etnias diversas. “Tem os seus encantos”, admite Madalena Martins.
Os portugueses também dão cor à capital inglesa. Diz Madalena que “a grande massa de habitantes é portuguesa, e nós convivíamos com muitos, frequentávamos restaurantes portugueses e clubs”. Da Bairrada propriamente “não havia muitos, os de mais perto eram de Mangualde e Viseu”.
Madalena Martins vai recordando aquilo que viveu até há quatro anos, altura em que regressou a Portugal. Hoje, reside na Palhaça, concelho de Oliveira do Bairro, com a filha de 11 anos. O marido continua em Londres. “Neste momento, vejo Portugal como o meu lar, país onde nasci e cresci. As perspetivas não são muitas, mas há que ter esperança, tenho uma filha menor e o futuro dela por agora é aqui.”
Desde que regressou, aproveitou o programa de Novas Oportunidades e completou o 9.º ano. Tem atualmente 37 anos e é doméstica.
Saudades da Barra, dos gelados, da tripa. Nos 13 anos que passou em Londres, sentiu muitas saudades da Bairrada. As férias eram aqui religiosamente passadas. “Aproveitávamos todo esse tempo para ver a família, e também as nossas praias. Que saudades tínhamos da nossa Barra, dos gelados, da tripa! Sonhávamos com tudo isto o ano inteiro!…”
Portugal era rota definida todos os anos, nos últimos tempos em dose dupla.
Madalena Martins reconhece que neste momento a vida em Portugal “está muito má”. “Às vezes, perguntam-me se é boa ideia emigrar e eu nem sei o que responder, porque ir lá para fora também já não é o que era”, confessa. “Se não tivermos uma vida lá fora estruturada, já não vale a pena sair de Portugal e deixar a casa e tudo o que se tem para trás.” Ainda para mais numa altura em que “a inflação lá fora está no pico”. “É tudo muito caro! E essa foi uma das razões pelas quais regressei a Portugal. Já não compensava muito estarmos os três lá fora, pagar renda de casa, comida…”
Todavia, também Londres deixou saudades. Hoje, a rota de férias inverteu-se e as “férias grandes” têm sotaque britânico. “É um país que deixa saudades, o país onde fazemos a vida e onde vivemos uma vida. Deixa sempre saudades.”
Oriana Pataco
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