Diminuição de mais de 20 por cento na concentração dos espermatozóides e alterações em cerca de 15 por cento na morfologia destas células reprodutoras masculinas, depois dos excessos próprios de uma semana académica, são as grandes conclusões do estudo pioneiro de Margarida Fardilha, docente na Secção Autónoma de Ciências da Saúde da Universidade de Aveiro (UA). A investigadora liga a influência dos abusos estudantis (aumento do consumo de álcool, tabaco, drogas e mudanças na alimentação e nos ciclos de sono) durante as semanas académicas de Aveiro e Coimbra ao decréscimo da qualidade do esperma. Os resultados reportam a uma investigação que teve início em 2010. Nesse ano a investigadora no Centro de Biologia Celular da UA, onde é responsável pelo Laboratório de Transdução de Sinais, lançou a campanha "Para o Frasco" com o objectivo de recolher amostras de sémen, entre os estudantes das Universidades de Aveiro e Coimbra e avaliar a qualidade do sémen depois de uma semana de excessos. Apesar de existirem vários estudos que indicam que o consumo prolongado de álcool e drogas diminui a capacidade reprodutora no homem, nunca antes se havia estudado a influência destes na qualidade do sémen num período de ingestão agudo e curto. A investigação de Margarida Fardilha é, por isso, inédita. As recolhas das amostras, entre 55 alunos voluntários das academias de Aveiro e Coimbra, ocorreram em três momentos distintos: dias antes do início do Enterro do Ano, no caso dos de Aveiro, e da Queima das Fitas, no caso dos de Coimbra, dias depois do final dos festejos académicos e três meses depois da segunda recolha. Para além da entrega das amostras os voluntários preencheram, nos três momentos, um questionário de controlo sobre o consumo de álcool, de drogas, de tabaco e de outros hábitos que, segundo a investigadora, "são relevantes para o estudo da alteração da qualidade dos espermatozóides". Desses questionários salta à vista a quantificação sobre o consumo de álcool que, durante as celebrações académicas, aumentou sete vezes entre os voluntários quando comparado com os consumos realizados durante o mês anterior às festas. Apesar disso, salienta a investigadora, "não podemos retirar também outros factores que se alteraram durante as semanas académicas como são o ritmo de sono e das horas em que se está acordado, a alimentação, o aumento do número de cigarros consumidos, dos cafés e do consumo de drogas". Os resultados encontrados agora, dizem apenas respeito à comparação entre as duas primeiras recolhas. Margarida Fardilha desvenda assim que "com as alterações que ocorrem durante a Queima das Fitas em Coimbra e o Enterro do Ano em Aveiro, há uma diminuição da concentração dos espermatozóides e uma alteração da morfologia dos espermatozóides que ficam com formas mais deficientes depois destas festas académicas". Da terceira recolha, e apesar das conclusões ainda não serem definitivas, Margarida Fardilha desvenda que "nos resultados preliminares vemos, na maior parte dos casos, que houve uma recuperação da qualidade do sémen, o que indica que o ciclo seguinte de espermatogénese não é afectada pelo consumo agudo de álcool durante uma semana". |