Na colecção de desenhos de Luís Simões, há um - feito ontem de manhã - que retrata um pescador, uma embarcação e o casario do Canal dos Botirões, em Aveiro. “Dar a volta ao mundo a desenhar” é o lema da jornada que o jovem de 32 anos iniciou sexta-feira em Lisboa e que ontem o trouxe a Aveiro - e que só terminará daqui a cinco anos. Ao longo da aventura por 93 países dos cinco continentes, este “urban sketcher” - “pessoas que partilham o gosto pelo desenho fazendo das suas viagens e do que os rodeia motivos para registos gráficos” - fará centenas de esboços que no futuro, finda a viagem, poderão dar origem a um livro ou uma exposição.
Mas como cinco anos é muito tempo, Luís Simões viverá um dia de cada vez. O lisboeta calcula gastar uma média de dez mil euros por ano. Um patrocínio da Visão” e “algumas economias” de que vai agora socorrer-se - está há três anos a “juntar dinheiro” - asseguram o financiamento.
Recentemente despediu-se do emprego - era designer gráfico numa estação de televisão. Agora tem “todo o tempo do mundo para viajar”. Com esse tempo vai empreender a sua “primeira volta ao mundo”. Apesar de muito viajado - já passou por mais de 30 países - é a primeira vez que parte “à aventura e à descoberta” por tanto tempo e por tantos sítios, conta ao Diário de Aveiro no Museu da Cidade, onde veio apresentar o seu projecto.
Mongólia, China, Camboja, Vietname, Austrália, Nova Zelândia, Guatemela, Tanzânia ou África do Sul são alguns dos destinos eleitos. “São países que me apetece muito visitar. Muitos deles ainda não estão muito globalizados, o que garante outra magia à viagem”, diz este “desenhador compulsivo”.
O movimento “urban sketchers” surgiu em 2008 na Internet através do jornalista e ilustrador espanhol Gabriel Campanario, com o intuito de reunir os vários desenhadores espalhados pelo mundo. Hoje em dia já conta com a participação de centenas de colaboradores nos quatro cantos do mundo (Portugal é onde existem mais ilustradores activos). Essa teia de contactos facilitará as deslocações e as estadias de Luís Simões. Em muitos casos irá pernoitar em casas de conhecidos - nem que sejam conhecidos virtuais. “Há pessoas que estão à minha espera no Japão em 2014”, contou.
Munido de duas mochilas - uma com “muito” material de desenho e outra com roupa -, Luís Simões viajará “à boleia” e nos “transportes que tiver mais à mão”, procurando resistir ao avião.
De Aveiro, onde passou parte do dia de ontem, seguiu para o Porto e daí irá para Vigo, já do outro lado da fronteira. Em 2012 e 2013 irá dedicar-se à Europa, prosseguindo viagem na Ásia (2013 e 2014), Oceania (2014 e 2015), América (2015 e 2016) e África (2016 e 2017).
Promete “viajar para desenhar e desenhar para viajar”. No final, trará na bagagem mil e um desenhos de arquitectura, esculturas, pessoas, alimentos, cores, objectos, formas…”Tudo serve de pretexto para um bom desenho”.
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