As comunidades ciganas radicadas em Aveiro deixaram os acampamentos tradicionais, vivem em bairros sociais ou em casas erguidas em terrenos que compraram e começaram a mandar os filhos à escola, mudanças acompanhadas nos últimos três anos por um mediador municipal.
João Seabra, ele próprio de etnia cigana, trabalha num projecto de inclusão que dá prioridade à escolaridade.
“No início era um pouco difícil porque eles não me viam como alguém da própria etnia, mas depois de confiarem em mim começaram a abrir mentalidades e perceberam que o futuro está na educação e escolarização desta juventude que está a crescer”, descreve.
Três anos volvidos desde o início do projecto, que a autarquia candidatou ao Alto Comissariado para a Emigração e Diálogo Intercultural, os resultados estão à vista.
Exemplo disso é a comunidade dos Ervideiros, que em 2009 tinha 37 crianças e jovens na escola e nenhum chegava ao oitavo ano de escolaridade. Hoje são já cinco os que estão matriculados naquele ano e um total de 61 crianças frequenta o ensino oficial.
João Seabra, como mediador, tem participado em reuniões com as escolas e conselhos de turma e considera que é possível aumentar o sucesso. Os principais problemas estão identificados: absentismo e comportamentos inadequados no espaço escola devido às diferenças culturais.
Por isso, defende que “é necessário também que os professores recebam formação sobre a cultura cigana para entenderem as diferenças e conviverem com elas”.
Segundo o responsável, “o professor desconhece a realidade e quando consegue perceber essas diferenças é muito mais fácil seguir o percurso escolar e ter-se aluno. Têm acontecido resultados muito positivos quando os professores se dedicam a esses alunos e entendem essas diferenças”.
Apesar do reconhecimento de que “existe ainda um longo percurso a percorrer para que todas as crianças residentes obtenham a escolaridade obrigatória”, Marisa Parada, coordenadora do projecto, fala numa “progressiva melhoria”.
A responsável ilustra também a melhoria com os progressos alcançados nos Ervideiros desde 2009, ano em que se iniciou o projecto, e especifica que frequentavam a escola 21 rapazes e 16 raparigas, nenhuma criança andava no jardim de infância e somente uma atingia o sétimo ano de escolaridade.
Agora, acrescenta, 30 rapazes e 31 raparigas frequentam o ensino oficial, já são 17 as crianças no jardim de infância e cinco jovens estão matriculados no oitavo ano de escolaridade.
“Para as comunidades ciganas a família é o principal educador e não a escola e daí a dificuldade em enviar os filhos à escola, mas começam a perceber que a escola está lá também para ajudar e representa um futuro melhor para os seus filhos”, comenta.
No concelho de Aveiro residem em empreendimentos de habitação social da autarquia e do IHRU 46 famílias ciganas, que correspondem a um total de 207 moradores, 97 dos quais com menos de 18 anos.
Fora dos complexos de habitação social estão referenciados dois núcleos importantes: em São Bernardo, num total de cinco famílias, com 14 menores, e nos Ervideiros, que conta com 31 famílias, com 64 menores a cargo.
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