Um ano excepcional para a região da Bairrada. Este é o balanço da vindima prestes a terminar na região.
“Foi um ano de óptimo estado sanitário das uvas; adiantamento generalizado da sua maturação (cerca de duas semanas) e uma abundância que superará ligeiramente a média dos últimos anos”, revela a Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), em comunicado enviado ao Jornal da Bairrada.
Antecipada pelo bom tempo, a vindima dos primeiros cachos na região começou ainda no fim do mês de Julho, para os vinhos espumantes, que exigem uma acidez elevada que lhes proporcionará a frescura que os caracteriza. Seguiu-se a vindima dos brancos, dado que, na generalidade, são castas mais temporãs, podendo dizer-se com segurança que haverá, este ano, vinhos de excepcional qualidade.
O mesmo se passa em relação às castas tintas, mais tardias, que agora se encontram na fase final da vindima. Também estas estão sãs, bem amadurecidas e equilibradas. Daí a CVB dizer que a colheita “correu muito bem e são altas as expectativas em relação à vindima que agora termina”.
Esta previsão é partilhada por vários agentes ligados ao sector, na região.
Nas Caves Solar de São Domingos, as vindimas, que começaram nos primeiros dias de Agosto, ainda não terminaram. Segundo Alexandrino Amorim, os técnicos da “casa” têm-se desdobrado em esforços no acompanhamento dos controlos de maturação até encontrarem o ponto ideal para recolher as uvas no melhor estado sanitário. Com uma área de produção próximo dos 100 hectares, é já possível avançar que a qualidade do vinho base para espumante e vinho branco tranquilo é “excelente”. Quanto aos tintos, a colheita pode ser considerada muito boa ou mesmo excelente, pois as chuvas de Agosto e a ausência desta em Setembro, a juntar ao calor intenso que se tem feito sentir, cria excelentes expectativas para este ano. Quantitativamente, a empresa regista um aumento de 10 a 15% nas uvas brancas e de 15 a 20% na casta Baga para espumante. Idêntico aumento é verificado nas restantes castas tintas.
Excelentes condições climatéricas. Na Fogueira, freguesia de Sangalhos, Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras revela-nos que a vindima ainda vai demorar alguns dias a terminar. Embora tenha começado no dia 17 de Agosto, a fazer monda na Baga para destilar, a vindima propriamente dita, nos brancos para espumante, iniciou-se a 3 de Setembro. Mais tarde, a 30 de Setembro, foi iniciada a vindima do tinto que, entretanto parou, e será retomada amanhã, dia 7 de Outubro.
Com 28 hectares de vinha, Mário Sérgio Nuno faz um balanço muito positivo da colheita deste ano. Para além de registar um aumento em cerca de 20% nos vinhos brancos, com excelente qualidade, nos vinhos tintos refere estar a ter uma qualidade elevada, devido às condições climatéricas excepcionais, pelo que prevê um aumento de cerca 10% na produção.
“A vindima dos brancos (vinho base para espumante) e brancos tranquilos foi de excelente qualidade”, diz, admitindo que para tal contribuíram as condições climatéricas que a manterem-se durante mais 10 dias se traduzirão “num ano excepcional em qualidade. A Bairrada merecia um ano como este”.
Previsões animadoras. Com 11 hectares de vinha, na adega Sidónio de Sousa, a colheita de uvas brancas da casta Maria Gomes e Arinto para espumante começou a 11 de Agosto. “Como só fazemos vinho branco e rosé para espumante a vindima foi antecipada para o vinho ter uma boa acidez total e baixo teor alcoólico”, refere Paulo Sousa adiantando também que nos últimos dias de Agosto efectuou uma monda forte na casta Baga para fazer o vinho rosé base para espumante. Mais tarde em, 13 e 17 de Setembro efectuou a vindima do Merlot “casta com um amadurecimento precoce”.
“A produção da casta Baga foi muito boa, motivo pelo qual a monda era uma operação obrigatória para permitir o amadurecimento dos cachos que ficaram na vinha para mais tarde fazer o vinho tinto de Baga”, diz, concluindo que “o estado de sanidade das uvas foi perfeito, não tendo sido detectada nenhuma podridão nem outro tipo de maleita”.
Relativamente à casta Merlot, as previsões são também muito animadoras. “Teve uma produção normal em perfeitas condições de amadurecimento e de sanidade, o que permite, neste momento, na adega ter boas extracções, excelentes cores e concentrações que nos indiciam excelentes vinhos”, refere.
A casta Baga ainda não foi vindimada: “aguardo ainda o amadurecimento da casta”, diz, sublinhando tratar-se de uma casta muito exigente na vinha e de maturação mais lenta.
Também nas Caves Messias, na Mealhada, o balanço na vindima na região não podia ser melhor. Com 65 hectares de vinha própria na região, a vindima decorreu de 18 de Agosto a 22 de Setembro e o balanço em termos de quantidade é muito bom, registando um acréscimo de 10% na produção. “A qualidade expectável é excepcional, já que o estado sanitário é irrepreensível com excepção de alguma Baga após chuvas do início de Setembro”, constata o enólogo João Soares que acrescenta: “na vindima dos brancos – vinho base para espumante – e brancos tranquilos obteve-se mostos de elevado potencial em ácidos e equilibrados. Na dos tintos (mostos ainda em fermentação) as expectativas são óptimas, com maturação fenólica perfeita e graduações alcoólicas comedidas, resultando mostos com frescura e concentração”.
Catarina Cerca
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