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02-06-2011

População e Junta indignados com fecho de Unidade de Saúde



 

A população de Ancas e a Junta de Freguesia local não se conformam com o encerramento – há já três semanas – da Unidade de Saúde local. Segundo o aviso colocado na porta, o encerramento prende-se com uma avaria no sistema informático que parece tardar a estar resolvido.
Para o autarca Arménio Cerca, é uma situação lamentável, recordando que esta Unidade de Saúde funcionava às segundas, quartas e sextas-feiras, servindo a população da freguesia. “Depois decidiram reduzir para dois dias (quartas e sextas-feiras) e em Janeiro deste ano passou a estar aberto apenas à sexta-feira”, das 9 às 13h, lamentando que a população da freguesia, sobretudo a mais idosa, seja a mais penalizada com a diminuição das valências dos serviços de saúde prestados e com a redução do número de dias de atendimento, o que leva as pessoas a dormirem à entrada da Unidade de Saúde, para garantirem uma consulta, uma vez que também não há autorização para marcação de consultas, para as sextas-feiras seguintes.
De acordo com o autarca, no mínimo, numa Unidade de Saúde como a de Ancas, considerando que só há meio dia por semana para atendimento dos utentes, “os gestores dos serviços de saúde deveriam ter o dever e a obrigação de fazer com que esse importante Serviço Público nunca falte à população”.
“Já lá vai um mês. Na primeira semana houve greve dos médicos, nas três semanas seguintes os utentes estão a ser desviados para a Unidade de Saúde de Amoreira da Gândara” já que é o mesmo clínico que faz serviço nas duas freguesias: “o médico está em Ancas à sexta-feira e nos restantes dias da semana em Amoreira da Gândara”.
Segundo o presidente da Junta local, não restam dúvidas que podem existir segundas intenções na deslocação dos utentes de Ancas para Amoreira da Gândara, dizendo que pode estar na calha o encerramento definitivo da Unidade de Saúde de Ancas. Isto porque as pessoas, segundo explicou, acabam por se cansar e fazer a mudança das suas fichas médicas para a Unidade de Saúde da freguesia vizinha: “depois, sem utentes, já têm um argumento para fechar o posto definitivamente”.
Quanto à falha no sistema informático, que já dura há três semanas, diz não perceber e não saber bem o que pensar: “espero que seja um argumento honesto e verdadeiro”, e que a Direcção do ACES Baixo Vouga, “dê um sinal positivo e que faça com que na próxima sexta-feira, o sistema informático já funcione e que tenha a preocupação de nunca mais faltar à sexta-feira”.
Na realidade o descontentamento dos utentes é grande. Na sexta-feira de manhã, em Amoreira da Gândara cerca de uma dezena de pessoas da freguesia de Ancas aguardava por vez para ser atendida. Fernando Miranda, de 70 anos, confessou-nos que a deslocação para a freguesia vizinha causa grande transtorno. “Só Deus sabe como aqui cheguei. Apesar do problema no braço consegui conduzir, mas custou-me muito. Caso contrário tinha de vir a pé.”
Luz Silva Oliveira, de 74 anos reside também em Ancas. Em desabafo, disse que “isto era o pior que nos podia acontecer. Tive de vir à boleia”, dando conta de que não tem transporte e que para alugar um táxi é preciso haver dinheiro.
Hermínio Miranda lamenta que a população de Ancas, que lutou e trabalhou para ter um Posto Médico, seja agora atirada para a freguesia vizinha, com todos os transtornos e incómodos que essa deslocação acarreta.
“Isto já não vai com manifestações. Não adianta nada. As pessoas devem fazer essa manifestação no dia 5 de Junho e ninguém ir votar”, disse em jeito de desabafo.
Já Carlos Alberto Parreira, de 70 anos, confessa que à meia-noite foi para o Posto Médico de Ancas para “apanhar vez para a consulta”. Só mais tarde se apercebeu que tinha de ir para Amoreira da Gândara. “Vim à boleia, mas são 10h e ainda não fui atendido”, lamentou, revoltado com o estado a que a Saúde chegou.
O marido de Ernestina Carvalho teve a ingrata tarefa de ir às 4 da madrugada para o Posto Médico de Ancas apanhar vez para a esposa conseguir uma consulta médica. “Ninguém avisou que tínhamos de fazer a inscrição em Amoreira, pensei que fosse em Ancas e que a consulta é que fosse em Amoreira. Como é por ordem de chegada vou ser a última a ser atendida”, disse-nos Ernestina Carvalho, lamentando a falta de informação e de explicações a que os utentes são votados. “Vamos acabar por ter de mudar para aqui a nossa ficha. É isso que eles querem”, acrescentou.
A JB, Ana Oliveira, directora executiva do ACES Baixo Vouga I apenas avançou que “na sexta-feira a PT foi ao local e não conseguiu resolver o problema que parece estar ao nível da ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde”.

Catarina Cerca


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