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25-10-2011

Metade da população portuguesa vive em situação de pobreza.


“O papel da comunicação social na criação de representações, atitudes e comportamentos face à pobreza e exclusão social” foi ...

“O papel da comunicação social na criação de representações, atitudes e comportamentos face à pobreza e exclusão social” foi tema de debate, ontem, no salão nobre da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, promovido pela EAPN Portugal – Rede Europeia Anti-Pobreza.

A acção foi organizada em parceria com a Amnistia Internacional e com o Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do ISEG, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que ocorreu no passado dia 17 deste mês. Na mesa redonda, moderada por Sandra Araújo, directora executiva da EAPN, participaram Ana Margarida Almeida (Universidade de Aveiro), João Seabra (ligado a cidadãos em situação de vulnerabilidade social), Jorge Pires Ferreira (Correio do Vouga), Luís Miguel Loureiro (RTP), Maria José Santana (Diário de Aveiro), Rogério Cação (FENACERCI) e Vasco Lagarto (Rádio Terra Nova).

Esta iniciativa teve como objectivos contribuir para a informação e sensibilização do público em geral sobre a natureza dos fenómenos da pobreza e da exclusão social, destinando-se a profissionais e voluntários que desenvolvem a sua actividade junto das comunidades locais, bem como da comunicação social e da população em geral.

Metade da população portuguesa vive em situação de pobreza e essa realidade tende a aumentar nos próximos cinco anos, revelou Sandra Araújo, citando um estudo com data de 2009 sobre a percepção da pobreza em Portugal. E sublinhou que o inquérito não se enganou, como hoje está provado, sendo as causas atribuídas ao Governo, ao Estado e à UE. Curiosamente, os inquiridos não se autorresponsabilizaram pela pobreza no nosso país. Considerando que se apontaram como factores desta situação a falta de água, luz e quarto de banho em suas casas, quando é certo que o conceito de pobreza diverge de país para país e de continente para continente, foi realçado que cabe à comunicação social (CS) a denúncia daquelas realidades, fundamental na luta pela erradicação da pobreza, na certeza de que todos temos, referiu Sandra Araújo, de nos assumir como actores estratégicos nessa luta, até porque "é possível fazer muito com pouco dinheiro".

Vasco Lagarto defendeu a ideia de que a questão em análise não deve ser abordada apenas pela aposta na erradicação da pobreza, mas sim pela criação da riqueza, tendo em consideração que se não pode repartir o que não há. Afirmou que "a ajuda que está a chegar a África está a matar a criatividade e a impedir o crescimento". Adiantou a moderadora que "crescimento económico não significa menos pobreza".

Por sua vez, Rogério Cação disse que é urgente "distribuir melhor a riqueza que temos" e salientou que somos, realmente, "uma sociedade geradora de desigualdades e que não vivemos numa sociedade em que a regra seja a igualdade". Denunciou que "há negócios à volta da pobreza" e referiu que "não é pobre quem quer", frisando que "a riqueza não é hereditária, mas que se herda".

Luís Loureiro esclareceu que os media tornam visível o que existe no espaço público, mas logo afirmou que "há tanta luz no espaço visível que até já nem vemos nada". Denunciou "a batalha" que existe entre os diversos órgãos da comunicação social que espalham ideias, tornando-se urgente fazer mais "alguma coisa" e se não se faz mais, é porque na comunicação social "tempo é dinheiro".

Jorge Pires Ferreira denunciou que a TV reproduz o que "durante o dia vem nos jornais", duvidando da influência que as televisões exercem sobre as pessoas. Referiu a necessidade de se "apresentarem casos positivos" e divulgarem "boas ideias".

Maria José Santana considerou as limitações de tempo e de espaço em alguma comunicação social, enquanto pediu mais "diálogo entre mediadores sociais", diálogo "nem sempre fácil" e para João Seabra, o papel dos media é preponderante na luta contra a pobreza. Adiantou, nessa linha, que o trabalho rápido que é feito pelos OCS "nem sempre é correto", o que contribui para "influenciar negativamente a opinião pública".

Ana Margarida Almeida disse que o papel da comunicação social "num futuro próximo pode ser radicalmente diferente", já que as gerações que estão a caminho "terão comportamentos também radicalmente diferentes". Adiantou que os efeitos da comunicação social nas populações "não se podem medir em dois ou três anos", havendo "défice na formação da pessoa humana" a vários níveis.

Sandra Araújo frisou ainda que o combate à pobreza não pode apoiar-se "só a partir da acção mais assistencialista e mais caritativa", sendo imperioso "dar condições às pessoas para a participação (na construção do seu futuro) sem as formatarmos". E partindo do princípio de que os media "não mudam nada", admitiu que "podem influenciar".

Para Vasco Lagarto, "ganhámos liberdade (com o 25 de Abril), mas não perdemos a dependência do Estado". E para Jorge Ferreira, os órgãos de comunicação social "são servidores da sociedade, mas não podem preocupar-se apenas com a erradicação da pobreza".

Fonte: pela-positiva


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