Mulher que manteve lares ilegais em Vagos e Ílhavo ouviu em silêncio testemunhas no inicio do julgamento em Vagos. “Ela era uma Santa. Só tenho a dizer bem, porque não nos faltava nada”. Maria Olímpia, 82 anos, contrariou, ontem, em tribunal, de forma lúcida, as acusações à arguida. Maria Conceição, 53 anos, actualmente empregada de limpeza num banco, é reincidente, tendo sido condenada por exercício ilegal da actividade em 2009 ao pagamento de multa de 5.000 euros e proibição de exercer actividades de acompanhamento social. Responde por crimes de sequestro (4), maus tratos (6) e ainda desobediência (1). A mulher seria apanhada depois em duas outras ocasiões a prestar serviços pagos em lares improvisados, incluíndo a própria residência, na Gafanha do Carmo, Vagos, pelos quais cobrava entre 450 a 500 euros por mês a familiares de utentes que a procuravam em último recurso, por falta de vagas nas redondezas ou dificuldades financeiras. Apesar da Segurança Social ter constatado que o acolhimento era feito em condições “indignas para vida humana”, uma utente e familiares de outras pessoas, ouvidos no tribunal, estranharam as queixas. “Tive duas tias com ela e nunca me apercebi de maus tratos”, disse uma mulher. A filha de uma idosa que esteve em dois locais encerrados (uns anexos na Gafanha da Boa Hora, Vagos, e uma v-ivenda na Gafanha da Nazaré, Ílhavo), contou mesmo ao tribunal que “ainda hoje a mãe chama pela dona Maria, que era muito amiga e não gosta do lar onde está”. A familiar desconhecia, contudo, que os quatro utentes acolhidos em Vagos até Abril de 2009 eram transportados, ao fim-de-semana, para a residência da arguida, onde eram feitas as visitas, pelo que nunca desconfiou. A delegada de saúde de Vagos recordou as condições em que encontrou os cinco idosos instalados durante 15 dias nos anexos de um restaurante. “Estavam muito debilitados, com sinais de desidratação, sem camas adequadas, denotando falta de higiene e cuidados”, disse a médica. “Um espectáculo deplorável, tudo sujo, um idoso amarrado pela cintura na cadeira e camas sem lençóis”, constatou, por sua vez, a técnica da Segurança Social que coordenou a fiscalização. De noite a casa ficaria sem vigilância e fechada à chave. Um utente seria mantido amarrado à cama, o que a idosa ouvida pelo tribunal, que tinha maior autonomia, justificou por “querer sempre fugir de casa e pôr-se nu”. Negou, ainda, agressões da arguida, garantiu que eram vistos por médico e “não faltava comida”. Versão diferente ouviram de outras testemunhas. Face a ausência reiterada da acusada, alguns cuidados e até alimentação terão sido prestados ao grupo por uma empregada do restaurante, que garantiu fazê-lo “de modo próprio”, e também pela senhoria, igualmente movida “por humanidade”. A arguida seria detida, na avenida dos Bacalhoeiros, em Ílhavo, meio ano depois, numa vivenda alugada a tratar de três idosos. A primeria impressão que ficou até hoje de um inspector da PJ envolvido nas buscas “foi o cheiro nauseabundo a urina”. Fonte: NA |