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16-06-2011

D. António Marcelino reflecte sobre comunicação em "Revoluções que abanam e mudam a história".


Começo por uma frase que pede reflexão: “Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução industrial ...

Começo por uma frase que pede reflexão: “Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no ciclo da produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças sociais e culturais”. São palavras de Bento XVI, a propósito do XLV Dia Mundial das Comunicações Sociais, recentemente celebrado.

As chamadas revoluções não têm todas a mesma repercussão social e humana, ainda que tragam consigo algo de novo que deixa algumas marcas na história das pessoas, porventura só num país ou noutro. Há, porém, revoluções que abanam a história e mudam o seu rumo. Foi o caso da revolução industrial da qual todo o mundo beneficia, e estoutra das comunicações, com realce para a Internet e suas possibilidades, que nos leva a sentir que o mundo acorda cada dia diferente.

Há acontecimentos que, no seu início, não é possível prever, e menos ainda ver, todos os seus efeitos. As pessoas sábias em humanidade, mais sensíveis aos sinais da história, podem, desde longe, intui-los, e, como que, profeticamente, ver já então o que os olhos não podem ver ainda. Paulo VI, ao iniciar, em 1967, o Dia Mundial, de que agora celebramos, sem interrupção, a XLV edição, teve esta intuição e acordou para ela uma Igreja, mais desconfiada que entusiasmada com o pouco que já se via. Quem podia imaginar na década de sessenta, o que se passaria em 2011, sempre com caminho aberto para ir mais longe? A nível mais próximo, também eu não imaginava até onde iríamos quando, há vinte anos, dei luz verde a um pároco da diocese para entrar, por esse mundo, com objectivos apostólicos e pastorais.

Ele pôde assim ser pioneiro, reconhecido e seguido por tantos outros. E o mesmo a um outro padre que me falava, com entusiasmo, das “novas avenidas da comunicação” e me pedia licença para que uma instituição diocesana ao serviço da cultura, aceitasse uma proposta da Universidade nesse sentido. O que logo então parecia privilégio antecipado para alguns, depressa se tornou possibilidade normal para todos.

O mundo tornou-se pequeno e toda a informação está ao alcance de cada um, as riquezas do património cultural mais acessíveis a todos, novas maneiras de aprender e de pensar estão na praça pública, trabalhar em rede deixou de ser coisa de circo… E a gente nova, até já as crianças, movem-se em tudo isto com a normalidade de quem diz que este é o seu mundo.

Tal como na revolução industrial surgiu a força e a condução do processo, por parte dos mais fortes, também, no mundo da comunicação, irromperam interesses de toda a ordem, que nem sempre se traduzem por vantagens e dedicação a um bem mais alargado a todos. As revoluções sociais e culturais revelam capacidades e riquezas e novas possibilidades de enriquecimento pessoal e comunitário. Mas, também, abrem, por vezes, ocasiões de desvio e desvirtuamento que deixam vítimas pelo caminho, e não apenas na gente nova. Há uma urgência que não se pode iludir e, em muitos casos, já peca por tardia. Trata-se de educar a todos, desde o início da aprendizagem escolar, para o uso correcto dos meios de comunicação social. Dar computadores ou mostrá-los, com orgulho, já em jardins de infância, não é sempre sinal de progresso educativo e de sensatez. Mesmo os adultos que beneficiam destes meios devem dispor-se a aprender as vantagens e os perigos, pois não se trata simplesmente de aprender como funcionam, mas de saber utilizá-los com discernimento e critérios válidos. Tem-se jogado mais na vontade e na possibilidade de ter, que na capacidade de usar com mérito e sentido positivo.

As mudanças que se operam por virtude desta revolução são verdadeiramente culturais. Tocam em valores, critérios, princípios e modelos de vida que determinam comportamentos, tanto individuais, como comunitários. Por este motivo, também a Igreja, na medida em que quiser ser “perita em humanidade”, não se pode furtar a estar presente e activa no seio das novas tecnologias da comunicação. Elas constituem um meio privilegiado para comunicar, evangelizar, criar fraternidade, gerar solidariedade. E a Igreja, no caso, é a diocese, a paróquia, a associação, o movimento ou o serviço pastoral e apostólico.


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