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18-10-2010

Ribau Esteves a bordo da Sagres reflecte sobre “Portugal, o mundo e o mar”.


PORTUGAL, o MUNDO e o MAR Crónicas da Sagres - I A história de Portugal leva-nos à referência a uma presença ...

PORTUGAL, o MUNDO e o MAR Crónicas da Sagres - I A história de Portugal leva-nos à referência a uma presença forte no Mundo, usando o Mar como base principal de mobilidade, e os Portugueses como instrumento de uma relação com os outros, em regra positiva e geradora. Não querendo nesta crónica fazer análises históricas, quero assumir essa realidade como elemento de estímulo para que todos nós Portugueses, possamos manter viva a aposta da nossa presença em todo o Mundo, usando o Mar e a capacidade relacional única dos Portugueses. Nos dias de hoje e nas últimas décadas o Navio Escola Sagres, agora denominado Navio da República Portuguesa (NRP) Sagres, tem vindo a executar um relevante papel de Embaixador Itinerante de Portugal, alimentando os valores da Cultura da Portugalidade (bem referenciada na “Cruz de Cristo” que as suas velas ostentam), e as Relações Internacionais na sua dimensão política, diplomática e económica. Sendo um Navio da Marinha, militar por essa condição, é um relevante instrumento da relação do Estado Português com outros Países e Povos, assim como com as Comunidades de Emigrantes Portugueses presentes em todo o Mundo. O NRP Sagres iniciou esta Volta ao Mundo 2010 em Lisboa, uma das 27 Capitais da União Europeia. Na Europa, Portugal tem de cultivar uma relação política e diplomática que cuide bem dos seus interesses económicos, dada a relevante dependência da sua economia de países europeus, de que se destacam a Espanha, a França e a Alemanha. A titularidade da presidência do Conselho Europeu por um Português não nos dá essa possibilidade: ela tem de ser construída a cada dia de trabalho. O exercício de um lugar importante e de prestígio, nos dias de hoje, não é um factor de dinamização económica, mas é seguramente um facto que a política e a diplomacia têm de aproveitar com jeito e arrojo. A título de exemplo da actividade da diplomacia no que à economia respeita, o Embaixador de Portugal na Noruega tem de ser um dos Portugueses que mais sabe sobre os negócios do petróleo e do bacalhau, acompanhando de perto as actividades das nossas empresas. O NRP Sagres depois de atravessar o Atlântico, tocou o Brasil e vários outros países da América do Sul, assim como os EUA. O Brasil constitui hoje uma grande oportunidade para Portugal e temos de tirar proveito da profunda ligação histórica e da afinidade da língua, para aproveitarmos o seu crescimento económico e a gestão de eventos tão importantes como o Mundial de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Os EUA são um parceiro político-estratégico da maior importância para Portugal, mas temos de ganhar mais nesta relação para algumas das nossas actividades comerciais e industriais. A Sagres aportou já vários países da Ásia: Japão, China, Coreia do Sul, Indonésia, Timor e Tailândia. Ainda estará em Singapura e na Índia. A Ásia é o novo motor económico do Mundo, com crescimentos bem acima dos que vão (?) acontecendo na Europa e nos EUA. A sua dimensão populacional, estratégia de desenvolvimento, exigência de qualidade de vida para os seus Cidadãos (em regra baixa, embora crescente), a estabilidade dos seus sistemas políticos, e várias vantagens competitivas, garantem e sustentam esse crescimento económico e de importância política no Mundo. Portugal tem excelentes relações históricas em toda essa região do Mundo e tem de tirar proveito dessa relação e daquele crescimento para a sua economia. A Ásia, em termos políticos, tem de ser muito mais que Timor, embora entendo que Timor tem uma importância histórico-cultural e estratégica, muito grande, e em termos económicos pode funcionar como uma plataforma agregada à Indonésia e à Austrália. Nesta viagem, o NRP Sagres vai apenas tocar a África no seu lado Norte. África que foi um dos falhanços mais graves da nossa história político- -diplomática. Colonizámos bem, mas não soubemos entender que o Mundo tinha mudado e devíamos ter apoiado politicamente a independência dos agora PALOP, mantendo relações políticas e de cooperação económica preferenciais com cada um desses Países, muito em especial com o mais rico de todos, Angola. Preferimos a guerra absurda e inconsequente, e uma descolonização à pressa, em fuga e vergonhosa, deixando os Povos irmãos de séculos, pobres e em guerra. África é uma aposta incontornável e crescente para Portugal e para a vida de muitos Portugueses, nos PALOP, nos países do Magreb, na África do Sul. Investir e aprofundar os laços culturais e políticos, são apostas necessárias em mercados onde existem produtos que nos interessam e onde temos obrigações e interesses de cooperação muito importantes. Usei o NRP Sagres para esta Volta ao Mundo. De porto em porto, de terra em terra, em todos estes locais onde a Sagres esteve e estará nesta sua viagem histórica, e por todo o Mundo, os Marinheiros Portugueses da nossa Marinha, encontraram milhares de Portugueses Emigrantes que amam o seu País e que querem para ele o melhor. Em Portugal, o Governo e os Portugueses, têm de apostar mais em termos culturais, sociais, políticos e económicos na sua relação com as Comunidades Portuguesas presentes por todo o Mundo. Mais do que agradecer e discursar, temos de trabalhar com elas para fortalecer a sua importância política nos países onde vivem e para os ter como Embaixadores activos e permanentes da cultura e da economia de Portugal. Esta viagem da sagres vai sempre pelo Mar, pela inevitabilidade de se tratar de um Navio. E é também pelo Mar, que tem de ir boa parte do desenvolvimento económico de Portugal, numa estratégia de aposta forte de um País que tem uma das maiores zonas económicas exclusivas do Mundo. Na pesca, nas actividades portuárias e nos transportes, no turismo (da zona costeira e das Ilhas), na investigação científica, na construção e reparação naval, na energia, nas actividades desportivas náuticas,…, Portugal tem de intensificar a sua aposta económica no Mar. E essa aposta tem de ter uma gestão integrada ao nível do Governo, deixando o espartilho entre os Ministérios da Defesa, das Obras Públicas, da Agricultura e da Ciência, para ter uma Secretaria de Estado do Mar no Ministério da Economia. … E em muitos momentos, a força motriz do NRP Sagres foi o vento, poupando energia, dando contributo activo para a qualidade do ambiente e tirando proveito dos extraordinários dons da natureza. Seguimos viagem pelo Mar, rumo a mais e melhor Futuro,…, e a Singapura. José Ribau Esteves, eng.


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