Paulo Henriques conquistou mais uma medalha de ouro e novo recorde do mundo. O atleta do CASCI Paulo Miguel Henriques venceu a prova de 1500 metros (6’22.00) nos Campeonatos do Mundo de Atletismo a decorrer na cidade de Puerto Vallarta no México. Relembro que este atleta já havia ganho a medalha de ouro na prova de 800 metros também com obtenção de recorde do mundo. O atleta ilhavense foi a grande figura dos Mundiais de Atletismo para Pessoas Portadores de Síndrome de Down ao arrecadar a medalha de ouro nos 800 e nos 1500 metros, com marcas que constituem novos recordes do mundo.
No final, a seleção portuguesa arrecadou seis medalhas de ouro, nove de prata e quatro de bronze, o que lhe valeu o título de vice-campeã mundial por equipas, ficando atrás dos anfitriões do México, que contou com uma numerosa delegação e à frente da África do Sul, que ultrapassou a Itália “na recta final” dos Campeonatos.
Paulo Henriques tem 29 anos de idade, muito embora a sua aparência física faça com que seja tratado por Paulinho por quem com ele convive, que não ficam indiferentes à sua grande sociabilidade, característica comum às pessoas portadoras de Síndrome de Down. Aos 11 anos de idade veio morar para a Praia da Barra, depois de passar uma infância conturbada e Henriques Santos, seu antigo treinador, recorda bem esses primeiros tempos: «O Paulo quando veio para o CASCI era muito frágil fisicamente e estava sempre a chorar. Foi uma transformação enorme» - reconhece o professor, que realça o espírito de dedicação do Paulo: «É difícil encontrarmos alguém tão motivado para o treino como o Paulo. Chega a ser incrível e por isso estes resultados não são propriamente uma surpresa, embora ele tenha superado todas as nossas expectativas».
Joana Agostinho, técnica superiora de integração do CASCI, destaca a competitividade de um dos mais populares utentes da instituição: «O Paulo tem um enorme espírito competitivo, extremamente dedicado e sempre bem disposto e estamos expectantes com o que poderá trazer dos Campeonatos do Mundo, porque ele, definitivamente, merece-o» - reconheceu Joana Agostinho na dia da partida do Paulo Henriques para o México.
Para a motivação do melhor meio-fundista mundial com Síndrome de Down também contribui o seu irmão, que profissionalmente se encontra ligado ao atletismo, mas José Manuel Henriques explica que a dedicação fora do normal do irmão se deve a um espírito competitivo que sempre lhe foi incutido: «O Paulo encontrou no atletismo a sua afirmação pessoal e é a prova do quão importante é o desporto na integração social dos jovens com deficiência intelectual ou física, e aqui há que salientar o extraordinário trabalho do CASCI. Mas a dada altura foi o Paulo a tomar as rédeas do seu próprio treino e até na última semana, que era preciso aliviar a carga de treino, foi complicado para ele entender que não podia correr tanto tempo» - explica José Manuel Henriques, que não esconde o orgulho pelo feito do irmão: «O Paulo desde muito novo, sempre dizia, na brincadeira, que ia ser campeão do mundo, e isto até parece um conto de fadas porque finalmente chegou a sua hora e agora sim, pode-o dizer com toda a autoridade: Campeão e recordista do mundo» - diz, orgulhoso, José Manuel Henriques que realça a grande emoção que sentiu nas pessoas que souberam da notícia, aquando do recorde do mundo dos 800 metros: «Alguns dos meus vizinhos até choraram» - diz, confessando alguma ansiedade pelo regresso da comitiva portuguesa, esta segunda-feira. |