O Bloco de Esquerda esteve em convenção este fim de semana. Estão num bom momento, sem dúvida; 10 anos, 10% nas sondagens. Não duvido que continuem a crescer fundados no descontentamento que os partidos do arco governativo têm deixado medrar e que os outros partidos são incapazes de captar. Este fenómeno não vive só à esquerda mas também à direita e ao centro com aparecimento de outros movimentos políticos. O Bloco de Esquerda fala numa "esquerda grande e capaz de combater os inimigos da exploração capitalista". Louçã desdenha da economia de mercado e fala dum socialismo capaz de resolver todos os problemas. Não duvido que tenha ideias, desconfio é da prática futura. Todas as experiências socialistas que vivemos deixaram-nos mais pobres e com o níveis de injustiça social bem mais elevados. Louçã diz que "esta não é uma crise da economia, é uma crise da classe dominante". Até pode ter aparente razão no momento presente mas não deve confundir a economia de mercado que levantou a Europa do pós-guerra com a ganância e a falta de escrúpulos de uns quantos, que por influências maldosas conseguiram desregular o mercado ferindo-o em proveito próprio. O mercado, contra o qual tanto esgrime, é capaz, ele próprio, de dar uma resposta efectiva a estes narcísicos capitalistas e colocá-los no seu devido lugar sem revoluções folclóricas ou ditaduras encapotadas. Afinal, a economia social de mercado é um valor em si próprio e não é preciso ser socialista de esquerda para se ter preocupações sociais. A crise afectou todos e as respostas vão aparecendo mas, um dos modelos de Louçã, Hugo Chavez, dá como solução a sua perpetuação no poder por mais 40 anos e a tentativa de cartelizar o preço do petróleo como se fosse um capitalista. É bem mais fácil cativar o descontentamento e prometer emprego do Estado, do que motivar o desenvolvimento e acreditar na utopia de que todos seremos um dia patrões, mas patrões justos e com preocupações sociais. António Granjeia* *DirectorDiário de Aveiro |